quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Toda ação tem uma reação, todo trauma , um gatilho

 A árvore genealógica da família Newton, (sim, do Isaac Newton) só rastreia até o seu avô, o

saudoso James Ayscough. Não se sabe muito sobre ele, só que viveu na Inglaterra do

século XVI, era agricultor, e apesar de ter cuidado do menino Isaac depois da morte de seu

pai, não é lembrado em suas biografias. Talvez a maior contribuição historiográfica do

senhor James tenha sido mesmo ter dado o pontapé inicial na vida do que viria ser o pai da

ciência.

Há quem acredite em herança genética, bons genes e maus genes, bem, como dizia o

próprio Newton, “o que sabemos é uma gota”. A gota que eu sei é que, sem dúvida, o

senhor James influenciou, de alguma forma, o nascimento das leis mais famosas da física,

da astronomia e do cálculo. Se o Isaac, tão esperto, se deu conta disso, eu não sei...

Numa dessas leis, a da gravitação universal, também chamada lei da atração, Newton

concluiu que se dois corpos possuem massa, eles se atraem mútua e proporcionalmente.

Essa é a única que eu sei de cor, até porque eu e física nunca fomos bons amigos.

Um bom amigo que eu tive foi meu avô. Caminhoneiro, vendedor de gás, pedreiro. O seu

César, talvez não soubesse física, não sei, nunca perguntei, mas sabia quantos quilômetros

o caminhão ainda rodaria, só de olhar o ponteiro. Sabia se o gás estava acabando, só de

ver a cor chama no fogão. Sabedoria que "não se ensina, se aprende" como ele gostava de

dizer. E mesmo sem ser ensinado, eu aprendi muito com ele.

Nos meus tempos de ensino médio, enquanto eu gastava tempo estudando físicos e suas

leis, meu avô dava entrada no hospital. Nem toda a sabedoria do mundo conseguiria

salvá-lo do câncer e, durante uma aula de lei da atração, eu recebia a notícia do seu

falecimento, era como se não uma maçã, mas o mundo houvesse caído na minha cabeça.

Deixo essa crônica para ser mencionada na biografia.


                                                                                        Cara de Pescoço


16 comentários:

  1. No começo fiquei com medo de que a comparação fosse tirar o lado mais pessoal da história mas acho que você realmente executou perfeitamente esses paralelos, e a comparação com a física no final foi muito inteligente. Um ótimo texto!!

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  2. Que texto bem construído. Achei um pouco desproporcional a parte puramente do Newton para a parte do seu César, que cá entre nós já sinto carinho. Parabéns pelo texto, preciso parar de comentar para enxugar minhas lágrimas aqui.

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  3. Eu comecei a ler com receio disso se tornar mais um pequeno resumo biográfico da vida do Newton, mas vc conseguiu relacionar muito bem aos paralelos de sua vida. Espero que seu César, apesar de não mais estar nesse plano, esteja num bom lugar! 🌿

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  4. Podia ter resumido mais o início, mas gostei como todos os fios soltos se entrelaçaram no final. Da pra perceber como a lembrança simples de uma aula que estava rolando no momento fatidico ficou marcada. Força

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  5. O texto foi muito bem estruturado e o resultado ficou ótimo, parabéns por ter corrido o risco e o feito tão bem. Sinto muito pela sua perda

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  6. Eu queria mais de você e do seu César, e menos de Newton

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  7. Gostei muito do texto e dos paralelos que você fez, mas como Jane mencionou acho que Newton não precisava de tanto espaço na sua crônica.

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  8. Como o pessoal já falou, a parte do Newton poderia ter sido um pouco menor e a parte do seu César maior. Fora isso, seu texto ficou incrivelmente criativo e foi perfeito quando tudo se conectou no final, concluiu muito bem, ficou lindo. Parabéns pelo texto, garantiu que seu avô não será esquecido.

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  9. Gostei de ter conseguido correlacionar as duas coisas no final, mas o início achei que ficou muito desconexo e poderia ter falado mais do seu trauma.

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  10. Ao contrário do que todo mundo disse eu achei a introdução a história do Newton muito bem elaborada e não acho que ficou grande sem querer. Teve intenção. Com as poucas linhas sobre seu avô você conseguiu expor vários sentimentos em relação ao que aconteceu e isso mostra o quanto a sua narrativa é cativante e muito criativa.

    Confesso que fiquei com medo quando comecei a ler mas o jeito que você conseguiu colidir o início do texto com a última frase me tirou um sorriso!

    Obrigada por compartilhar sua história e espero um dia poder ler a biografia!

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  11. Eu achei bem fofa a crônica. Imagino o quanto o seu César está orgulhoso.

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  12. Achei interessante a abordagem, mas acho que poderia ter resumido o início e desenvolver mais a parte pessoal sobre sua relação com o seu César. No geral gostei da crônica.

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  13. A forma que você puxou do Newton e seu avô pra sua história é muito, mas acho que poderia ser um pouco menos James e mais César. Fora isso está muito boa.

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  14. Gostei da abordagem diferente, iniciando o texto com um assunto que de alguma forma se relacionou com seu trauma no final. Apesar desse início ter sido maior do que a explicação da sua dor em si, achei que você conseguiu resumir muito bem em poucas palavras. Parabéns por isso.

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  15. Parabéns pela abordagem! Texto muito criativo mas também é possível se emocionar com a sua história e a de Seu Cesar

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  16. Eu queria muito ter visto mais da relação de vocês e um pouquinho menos de Newton (embora eu considere a escolha magnífica).
    Parabéns pelo texto

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