E o Racionais MC’s em Da Ponte Pra Cá (2002) já tinha razão pra caramba.
“Não adianta querer, tem que ser, tem que pá
O mundo é diferente da ponte pra cá
Não adianta querer ser, tem que ter pra trocar
O mundo é diferente da ponte pra cá”
Poucos te falaram que, mesmo trabalhando muito e vendendo sua mão de obra (incansáveis
vezes a preço de banana) as coisas não aconteceriam por puro esforço e dedicação absoluta
no trabalho.
Marx já tinha comentado sobre isso no O capital, Volume I (1867), quando explica o conceito
de Mais-valia, que perambula nossas vidas todos os dias.
Veja, em um mundo onde nos baseamos na relação entre trabalho assalariado e capital, a
produção do capital (ou seja, da grana) por meio da expropriação (ou seja, da tomada do
valor) do trabalho do proletário (ou seja, nós, os trabalhadores) pelos donos de produção (ou
seja, os chefes); isso se entende mais-valia.
Vamos pensar. Se para “ser” nós temos que “ter pra trocar”, o que nós temos? E o que os
chefes têm? Nós temos a força de trabalho, que é o que nós vendemos aos chefes. Os donos
de produção, possuem justamente os meios pelos quais nós podemos investir nossa força de
trabalho humano e, no final, trocar por dinheiro.
Simples né? Mas aí é que está. Neste processo os chefes lucram muito mais do que aquilo que
eles nos pagam. Isso significa dizer que, eles usam da nossa mão de obra não apenas para
produzir o que eles precisam, mas para produzir em excesso e esse excesso gerar mais grana
pra eles.
Justamente aí, talvez vocês entendam os motivos das inúmeras vezes o mundo ser diferente
da ponte pra cá.
A desigualdade, nesse sistema, torna-se inerente aos homens e às condições de trabalho que
são submetidos. Por conta disso, torna-se muito distante a possibilidade de usufruir daquilo
que nós mesmos produzimos.
Reconhecer nosso lugar nesse espaço social desigual, não é fácil. Mas é importante ter
consciência de onde estamos e por qual motivo estamos. E aqui, Zé Geraldo (1981) nos
invade com a realidade e a consciência de ser Cidadão nesse mundo
“Tá vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar.
Foi um tempo de aflição, eram quatro condução,
Duas pra ir, duas pra voltar.
Hoje depois dele pronto, olho pra cima e fico tonto,
Mas chega um cidadão e me diz desconfiado:
Tu tá aí admirado, ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido,
Dá vontade de beber. E pra aumentar o meu tédio, eu nem posso olhar pro prédio, que eu
ajudei a fazer.”
Joana da Rua
Jurei que "da ponte pra cá" era referência à Ponte Rio-Niterói (não ri, kkkkk). Surpreso fiquei e surpreso estou. Parabéns pela crônica, muito boa. Só acho que poderia variar um pouco as estratégias em "(ou seja,...)". Mas amei, parabéns novamente.
ResponderExcluirNão sei se foi sua intenção, não ficou claro, mas você deixou a reflexão muito a cargo do leitor, expôs o conceito, levantou a questão da desigualdade e fechou com uma música, que por mais que seja explicativa pra cada um, você não expõe sua visão sobre ela. Senti falta de você no texto.
ResponderExcluirAchei que a crônica não cumpriu seu papel de alerta, me parece uma exposição de conceitos, sem uma grande problematização
ResponderExcluirGostei da utilização da música no início do texto, mas acho que o desenvolvimento ficou muito expositivo, senti falta do alerta de fato.
ResponderExcluirGostei do texto e é de fato importante explicar aos trabalhadores os mecanismos que envolvem seu trabalho, mas poderia ter desenvolvido melhor o alerta acerca disso. Achei que os trechos de música ficaram muito extensos sem necessidade, poderia apenas ter feito referência à música ou só ter botado um trecho pequeno. Dessa forma, sobraria mais espaço no texto pra desenvolver melhor suas ideias, o que também ficou faltando. No mais, boa escolha de tema, boa explicação didática e boas referências.
ResponderExcluirGostei do entrelace de referências e a explicação e análise do trecho da música com o conceito de mais valia de marx. Mas não gostei muito da repetição "ou seja" na explicação. Não sei se o uso foi proposital mas me deixou um pouco confuso e perdido.
ResponderExcluirComo já mencionaram, senti falta de um toque mais pessoal no texto, a parte que não é referência. Mas gostei muito da sua crônica, cheia de consciência de classe. Parabéns!!
ResponderExcluirAs referências foram maravilhosas, mas senti falta de algo. Não estou dizendo que a crônica está ruim, pelo contrário, ficou ótima. Mas poderia ir além, talvez com uma metáfora, não vai. Parabéns, Joana.
ResponderExcluirGostei do desenvolvimento do texto, boa escolha de referencias.
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