Eu duvido da índole de quem nunca aprontou na escola. Como aprender que roubar é errado, sem nunca ter pegado na malandragem um lápis de cor faber-castell do amigo? Como aprender a não levantar falso testemunho, sem nunca ter feito merda e colocado a culpa no colega? Como aprender a respeitar os mais velhos sem nunca ter mandado aquela professora insuportável pra... Nárnia? Bem, em minha defesa, fiz esses três, e muito mais. Inclusive, aprendi o truque de escrever meu nome em todos os meus materiais pra não cair na de alguém mais esperto que eu.
Uma traquinagem em especial tenho nítida na memória até hoje. Era quinta feira de manhã, um dos integrantes da gangue do fundão me aparece com uma fotografia que, descrever como obscena, seria no mínimo desonesto, era indecente, imoral, daquelas retiradas da revista que o pai esconde da mãe, sabem?
Nós olhamos pra cara uns dos outros, e o sentimento foi mútuo: “Essa vai ser nossa maior vigarice”. No intervalo das aulas, inserimos o artefato dentro do diário da querida Elenir, a professora de história mais fofa do mundo, que parecia ensinar o que havia presenciado, de tanta idade que tinha nas costas.
Aqueles 5 minutos de intervalo foram como os minutos finais de uma dinamite, adrenalina subia, todos alucinados esperando a hora da bomba explodir, e explodiu.
Acho que pela falta de costume, com a foto e com o conteúdo, à primeira vista parecia um macaco tentando ler hebraico, não entendia o que estava ali, e como havia ido parar dentro do seu diário.
A ficha que havia sido posto por algum dos alunos ia caindo, enquanto ela protagonizava o maior sermão da história, com ofensas que iam desde “vagabundos” até “filho de chocadeira”. Nisso, notei que havia deixado um rastro na execução da delinquência. um pequeno detalhe na cena do crime, que, se percebido, denunciaria o criminoso.
Uma caneta preta, levada no impulso, acabou indo parar ao lado do diário, caneta marcada com as iniciais do delinquente. Era meu fim, quando notei, a adrenalina chegou no seu pico, mãos trêmulas, suor escorria da testa, o que era comédia se tornou tragédia. Diante disso, analisei minhas possibilidades, eram 3: Assumir o delito, torcer para que passasse despercebido, ou dizer que as iniciais C.P. eram de algum Cara de Pau, não de Pescoço.
Porém, antes mesmo que alguma decisão fosse tomada, brada Elenir:
– Eu não quero saber quem foi! Vou punir a turma toda!
Foi uma mistura de alívio e indignação. Como poderia uma professora de história, tendo estudado a convenção de Genebra, que no artigo 33, colocou a punição coletiva como crime de guerra, aplicar uma pena tão generalizada assim?
Talvez nunca saberemos, assim como eu nunca saberei porque não assumi a responsabilidade. O que de fato sabemos é que a memória é seletiva e aleatória, e a escola ensina para muito além do que está nos livros.
Cara de Pescoço
Adorei a crônica, Cara de Pescoço. Realmente fazer m**da na escola molda caráter. Só identifiquei, não sei se certo, o excesso de vírgula nessa frase "Como poderia uma professora de história, tendo estudado a convenção de Genebra, que no artigo 33, colocou a punição coletiva como crime de guerra, aplicar uma pena tão generalizada assim?" na parte após o artigo 33. Mas adorei, parabéns.
ResponderExcluirÉ uma sequencia de apostos, uma explicação que precisa ficar entre vírgulas(como essa kkkk), mas concordo que eu poderia ter feito de alguma outra forma! Obrigado demais pela observação! <3
ExcluirHahahahah excelente crônica, Cara de Pescoço, muito boa mesmo. Construção perfeita, desenvolvimento que cria curiosidade no leitor e a conclusão com chave de ouro e referências bem elaboradas. Abraços!!!
ResponderExcluirQue bom que gostou!! <3
Excluirque crônica boa de se ler, adorei a narração dos fatos, o nervoso pra saber se ela iria descobrir se traquinagem foi sua ou não... parabéns, cara!
ResponderExcluirFico feliz q tenha gostado! <3
ExcluirToda semana me surpreendo com suas crônicas, mas essa me surpreendeu mais ainda, você conseguiu narrar de uma maneira muito divertida, que ainda não tinha mostrado no blog, e ainda assim manter sua identidade (como citações de fatos históricos). Que atire a primeira pedra quem nunca fez uma merda na escola hahaha! Enfim, parabéns pelo texto.
ResponderExcluirFiquei feliz com esse comentário, obrigado! <3
ExcluirMuito boa a narrativa, prende do inicio ao fim.
ResponderExcluirObrigado querido! <3
ExcluirEssa, com certeza, é minha crônica preferida dentre as suas. Narrativa muito bem feita, envolvente e com aquele "quê" de nostalgia gostoso. Parabéns, continue assim! Aguardo pela resposta da "gangue do fundão" pra ver se o desespero deles foi o mesmo.
ResponderExcluirQue surpresa, foi a que eu menos gostei de escrever kkkk, mas fico feliz que tenha gostado! <3
ExcluirAcho que é uma das minhas crônicas preferidas dessa semana. Texto muito bom, foi bem escrito e os detalhes e o desenvolvimento vão conduzindo o leitor de forma muito natural. Gostei muito, parabéns!!
ResponderExcluirQue bom que gostou querida <3
ExcluirComparsa de delinquência:
ResponderExcluir-Não lembrava do detalhe da caneta
-Adorou a comparação com o macaco lendo hebraico
-Me lembrou que depois outro parceiro assumiu, e ficou com a culpa toda sozinho, coitado
KKKKKKKKKKK MEU DEUS MUITO BOM. Não sei o que é melhor: a história ou a forma como você escreveu. Sério, sem defeitos, eu ri demais. O texto ficou incrível, da introdução ao desfecho, certamente um dos meus favoritos dessa semana. Parabéns!!
ResponderExcluirQue bom que gostou! <3
ExcluirEu daria mais créditos pra história kkkkk
"Inclusive, aprendi o truque de escrever meu nome em todos os meus materiais pra não cair na de alguém mais esperto que eu." Hahaha quem nunca? Já perdi horas fazendo isso! Nomeando lápis de cor por lápis de cor, canetas, apontador...
ResponderExcluirAdorei a crônica! Achei muito inteligente a conexão da nomeação dos materiais escolares no início com a caneta te denunciando dps. E na parte do cara de pau eu ri! Confesso que não conheço o artigo 33 da convenção de Genebra, preciso pesquisar. Agradeço pelo compartilhamento de mais um conhecimento de mundo! 😅
ResponderExcluirSempre tento incluir algum conhecimento quando possível, afinal, a função do jornalismo é informar né? Que bom que gostou! <3
Excluirkkkkkk amei a crônica, fiquei presa do início ao fim. Gostei de como você usou algumas palavras específicas que não lemos todos os dias como "traquinagem", "vigarice", "delinquência", elas deixaram o relato ainda mais engraçado. Parabéns pela crônica, Cara de Pescoço!
ResponderExcluirObrigado meu querido <3
ExcluirQue crônica gostosa! Eu amei a forma como algo tão "simples" como nomear os materiais escolares, que todos com certeza já fizemos, deu um clímax excepcional ao acontecimento e ao texto. Amei.
ResponderExcluirGostoso é esse comentário! muito obrigado <3
ExcluirVocê desenvolveu muito bem o momento em que quase foi descoberto pela professora, conseguiu deixar me deixar tenso enquanto lia kkkkk Gostei também da referência ao seu pseudônimo, a comparação do artigo 33 da convenção de Genebra com a punição da turma foi bem perspicaz. Ótima crônica, parabéns!
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