quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O calar da filosofia

 Tinha o mar para mergulhar, mas escolhi você. Tinha a lua para admirar, mas seus olhos brilhara com mais força. Assim iniciou-se a história de quem mergulhou no mesmo rio. E ai de Heráclito tentar explicar a impossibilidade de algo que só minha pele sentiu. Era azul: o mar naquele fim de tarde, o céu daquele espaço, a cor dos seus olhos marejados. O mesmo cenário e os mesmos personagens de quando a conheci. Mas naquela data os atores esqueceriam de vez suas falas. Para sempre. Ainda que a traição propriamente dita nada mais seja do que uma invenção cristã, minha primeira indagação remetia-se a este tema. O seu não como resposta teve mais força do que qualquer soldado de guerra da Alemanha nazista de Hitler.  Por qual motivo então iria embora sem rumo em um mundo que um dia disse-me que eu era o seu refúgio? E desde quando as coisas têm necessariamente uma explicação? Respirou fundo, abraçou-me e virou as costas. O silêncio foi a forma mais singela de representar o seu adeus. Minha maratona para encontrá-la no dia seguinte foi o ápice da crueldade que cometi comigo mesmo. Fui menos leonino do que sou. Menos egocêntrico que o mundo capitalista aconselha ser. Um cachorro sem dono, um solitário no canto da estrada, um avô no asilo que não lembra nem dos netos, quem dirá da sua essência. E aí, Platão: que resposta o senhor em seu contemplado Banquete daria-me? Até a filosofia calou-se. E eu, falador e bom ouvinte, queria apenas tornar-me surdo para viver nesse mundo dos mudos.


                                                                                                              Formiga Atômica

13 comentários:

  1. Precisa ser melhor pontuada, espaçada e conectada. A pulsão de morte, se eu entendi bem, está no "minha maratona" em diante, mas acaba se perdendo no meio de tanta coisa.
    O tema é muito complexo e muito difícil, acho que isso embaralhou um pouco suas ideias

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  2. Olá, Cara de Pescoço. Tudo bem? Obrigado pelo comentário. Minha intenção com as tantas metáforas era deixar de fato subentendido o meu sofrimento, algo que acontece durante todo o texto. A pulsão de morte foi construída através delas. Porém, obrigado pelo comentário, me motiva a tentar algo melhor da próxima vez (;

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    1. As metáforas não são o problema, o que eu quis dizer é que você poderia ter feito isso, mas colocar parágrafos, por exemplo, uma frase sozinha num parágrafo pra causar mais impacto, faz diferença. Do jeito q vc fez é só um bloco de informações que não são fáceis de serem digeridas de uma vez.
      Da pra perceber que tem potencial pra ser muito melhor, vc tem sensibilidade pra escrever, só a estrutura que pode melhorar mesmo

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  3. Mesmo cheio de metáforas achei vago o tema da crônica, mais presente no final do texto. Achei exagerada a quantidade de metáforas, ficou com muita informação, mesmo que cronologicamente sejam só dois dias. Faltou também uma divisão textual melhor, com parágrafos. Mas o texto é intenso, parabéns.

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  4. Gostei muito das metáforas e referências, mas o texto poderia ser melhor trabalhado, ficou um pouco confuso

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  5. Curti o jeito que você introduziu as referências filosóficas e as articulou no texto, mas pra mim não ficou tão clara a sua autossabotagem, poderia ter desenvolvido mais essa questão. De resto, bom texto!

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  6. Gostei da maioria das comparações mas eu fico meio incomodado quando vai um pouco longe demais, quando compara uma situação que por pior que seja nao se compara a crises humanitarias e tal como quando voce falou de soldados e guerra, mas fora isso achei maneiro

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  7. Concordo com o Cara de pescoço, o texto em si foi muito bem construido, único ponto que merece mais atenção é a estrutura dele.

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  8. Gostei do texto, mas acho que o desenvolvimento ficou um pouco confuso. Não consegui identificar a pulsão de morte, acho que a proposta poderia ter sido mais trabalhada.

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  9. Eu gostei da sua escrita cheia de metáforas mas essa me pareceu mais uma história de fim e despedida que de autossabotagem. Mas parabéns pela crônica!

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  10. Confesso que precisei reler para pegar o gancho de algumas metáforas. Concordo com os demais comentários que talvez pudesse ter sido desenvolvido melhor, com uma estrutura mais fluida. Mas ainda assim, parabéns pela crônica!

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  11. O texto não me prendeu muito. Acho que o uso de muitas metáforas fez ele ser cansativo e fácil de se perder. Mas achei muito inteligente o uso de tantas e como conseguiu "ligar" acontecimentos. Parabéns pela crônica.

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  12. Acredito que consegui entender a sua autossabotagem. Gostei do uso das metáforas para não deixar o problema tão exposto, mas ainda assim dificultou um pouco a leitura.

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