sexta-feira, 13 de maio de 2022

 

A procura pelo fim

Certo dia, uma amiga me disse que, se eu fosse um Deus, seria Hades: o deus, não só da morte, mas dos fins, da interrupção de ciclos. Me admiram os finais. Eu gosto dessa quebra de raciocínio, ou somente da quebra. O impacto que faz no chão quando tudo se reparte e você vê que nada faz sentido porque pode ser perdido a qualquer momento sem pudor algum. 


Sempre que vejo algo, eu imagino, antes de tudo, o final. Na faculdade, nos namoros, nas amizades. Como aquilo pode ser quebrado? Como transformar algo em pequenos pedacinhos do que foi e, assim, viver o novo? Perceba: eu estou indo por um caminho que é 100% honesto. Acho que, no fim, não posso falar de reconstruções se o que eu gosto mesmo é de quebrar. 


Me assusta o nada. Para mim, a vida que caminha tranquilamente do mesmo jeito todos os dias, todos os fins de semana, é uma ilusão. Sinto que o ser humano guarda dentro de si um medo grande de, ao transformar tudo em cacos, perder uma pequena migalha da rotina chata que os assola. Esse medo animal de perder a rotina é inútil e causa dor. 


Depois, você se encontra preso. Na mesma casa, no mesmo fim de semana, com a mesma mulher com quem você não transa há mais de dois anos, vivendo o nada e fingindo gostar. O ser humano não quer quebrar, mas não percebe que viver é quebrar, todos os dias, um copo de vidro. Ou um relacionamento, ou um raciocínio.


No fim, reconstruir é fácil. O difícil é perceber o tempo certo no qual tudo deve ser quebrado. Devo ser honesto aqui, eu não sei. Mas gosto de quebrar o tempo todo. “Talvez no fundo eu goste mais de procurar”.

Por Nico

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "Sempre que vejo algo, eu imagino, antes de tudo, o final."

    Nico, você precisa parar com esses trechos arrebatadores que mais parecem uma faca no meu peito. Acho que você já deve saber como eu aprecio seus textos e me deleito com eles. Novamente, muito obrigada por esse pedacinho de paraíso que você nos proporciona a cada tema.

    Com carinho,
    Inez

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