sexta-feira, 13 de maio de 2022

No balanço das andanças aprendi sobreviver            

Pense bem, você vive a vida toda dentro de um espaço e a cada dia coloca objetos simbólicos que te recordam de algo ou alguém, seja bom ou ruim. Você vai enchendo sua casa com todos esses pertences e um dia se dá conta que não existe mais espaço para você viver ali, uma vez que seus objetos ocupam a casa toda. Não consegue mais abrir a janela ou sentar no sofá, de tanto entulho que existe. 

O processo de cura, de reconstrução dos seus cacos é como sentar na sua sala, abrir cada caixa, mesmo sabendo que será doloroso remexer essas lembranças, e se desfazer do que não te acrescenta. Nem sempre conseguimos descartar totalmente um trauma, por exemplo, mas podemos transformá-lo em algo tão pequenino que estará ali só para te lembrar como você é forte. 

Comigo, foi assim. Tive que sentar, separar, catalogar e me desfazer de muitas coisas das quais tinha apego emocional, mesmo que me fizessem mal. E doeu muito, revisitar tantas pessoas e momentos. Mas fui até o final. Hoje, minha casa tem espaço para dançar e rodopiar, não existe mais lugar para o que me faz sentir pequena. Ao final de cada dia, me certifico se tudo o que está ali vai me impulsionar para frente. 

A vida não é linear, e está longe de ser um comercial Margarina. Passamos por provações o tempo todo, situações que nos partem em mil pedacinhos e nos trazem a impressão que não estaremos de pé nunca mais. De pouco a pouco, a gente se reconstrói, encontrando alento nas risadas com amigos, sessões de terapia, banhos demorados e comidas caseiras. A reconstrução é um processo que acredito durar o mesmo tempo de nossa existência, porque estamos sempre vulneráveis a virar cacos, mesmo após remontados. E ninguém melhor que você para revirar essa casa de cabeça para baixo novamente. 

Por Mrs Dalloway


3 comentários:

  1. Lendo seu texto, lembrei dos programas de Hoarders (Acumuladores) que costumava assistir na televisão com a minha mãe. Geralmente são pessoas muito solitárias, que transferem para os bens materiais todo esse medo insuportável de perder. Acabam, com o perdão do trocadilho, acumulando dores.

    Como dizem por aí, nossa mente é nosso lar, e essas faxinas periódicas são mais que necessárias! Fico feliz que você esteja trilhando esse caminho!

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  2. Mrs Dalloway, que leveza! Acredito que seu texto conversa perfeitamente com alguns mais intensos que foram postados nessa leva. Acho que a sua reflexão de que podemos ressignificar certas coisas em nossa vida é muito pertinente. Tem muito entulho mesmo nos prejudicando, é "aquela pedra no meio do caminho" do Drummond. Sobre o seu texto, eu tenho que dizer que foi como sentar de manhã e ler alguma crônica da Martha Medeiros. Você leva muito jeito,tá? Parabéns.

    Abraços do Liev.

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  3. Mrs Dalloway, a maneira como você tratou esse processo de reconstrução foi impecável, as comparações que você fez são muito fidedignas à realidade. Como o Liev disse, seu texto é muito leve e durante a leitura eu até cheguei a pensar que poderia me reconstruir também. Meus parabéns pelo texto e fico feliz que você tenha conseguido entender esse processo de reconstrução.
    Freddie Mercury

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