Imperfeita e cheia de marcas
Quando ela se olha no espelho todas as manhãs, não reconhece a si mesma. Quando ela lava o rosto antes de dormir, se despede de mais uma versão ultrapassada. A garota dessa história percebeu a necessidade de mudança em dois mil e dezessete. Ano de muitas transformações drásticas em sua vida. De repente, tudo desmoronou. Os conflitos internos e externos se tornaram constantes, assim como os laços familiares foram brutalmente desfeitos. Mesmo morando na mesma casa, cada um começou a seguir o seu caminho individualmente. Tornaram-se estranhos obrigados a conviver sob o mesmo teto. Tristeza. Angústia. Medo. Raiva. Revolta. Todos esses sentimentos envenenavam o ar e o deixavam pesado demais para respirar. Como se não bastasse tanta dor, em outubro do mesmo ano, o estimado avô (sinônimo de cuidado e carinho) fez sua passagem…
CRACK! Ela se fragmentou em várias com uma única colisão. Infelizmente, a garota dessa história também é a escritora desta crônica.
Tic-tac, tic-tac, tic-tac. O barulho do relógio não me deixa esquecer o passar do tempo. Horas, minutos e segundos se tornaram cruciais desde o acontecimento. Me vi flutuando em lágrimas e tentando fugir de tanto tormento. Mas a mente não colaborava…
Despedaçada. Como reconstruir meus cacos em um ambiente tão hostil? Como me reerguer carregando tantas falhas? Imperfeita e cheia de marcas, confesso não saber responder. Abandonei minha antiga versão durante a depressão e ainda estou tentando me recompor. Afinal, não existe fórmula mágica. Quem sabe uma dose de reflexão, seguida de uma dose de coragem e uma pitada de autocuidado? Talvez essa seja uma boa maneira de recomeçar.
Por Elizabeth Bennet
Elizabeth, os recursos sonoros favoreceram e muito a mensagem que você quis transmitir. O "crack" realmente me surpreendeu. Seu jeito de escrever me lembra alguma autora, agora não me lembro qual... Mas é uma sensação familiar que você produz em mim.
ResponderExcluirCom afeto, Argus.
Elizabeth, gosto muito do ritmo dos seus textos e da experiência de imersão que você sempre nos proporciona. Virei fã, mesmo.
ResponderExcluirEssa "confusão" entre primeira e terceira pessoa (seria proposital?) é bem clariceana.
Elizabeth, leria um texto seu antes de dormir e outro ao acordar se pudesse. É lindo ver a sua capacidade de síntese, de falar aquilo que precisa ser dito e mesmo assim não ser menos poética. Eu consegui ver seu texto como crônica do início ao fim. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirAté a próxima.