sexta-feira, 13 de maio de 2022

 

 Os fragmentos de quem eu sou que jamais serão contados por mim


Apareço-lhe mais uma vez como um fantasma perdido, caro expectador. A narrativa de uma íngreme decadência é tudo que posso fornecer. Reconstrução e Memória, os temas propostos capturaram-me de forma peculiar e dolorosa. Ainda assim, existiam muitas maneiras capazes de retratar o tópico. 


Não prometo a perfeição, mas prometo-lhe a percepção de uma narrativa covarde e fraca. Já que todos somos dessa forma em nosso ínfimo.


Confesso não ter sido completamente leal a mim mesmo até aqui, mas aprecio a vista durante essa caminhada pedregulhosa. Portanto, garanto uma viagem nua e honesta, pelo menos uma vez durante nosso breve infinito decretado a terminar.


Admirar os cacos quebrados pelo chão, lembrou-me de mim mesmo mais do que o proposto. Quebrado, em milhões de versões e máscaras. Qual desses fragmentos sou eu? 


O processo de reconstrução é duro, árduo e injusto. Afinal de contas, quantas vezes fomos jogados na parede por outros para que nós mesmos tivéssemos que nos reconstruir? 


Juntar os fractais é mais complicado do que parece, meu leitor. Sinto-me no dever de alertar-te sobre as tentações de conhecer a si mesmo, é uma viagem sinuosa e sem volta. Você precisa ser cuidadoso o suficiente para não se perder em si mesmo: em quem você já foi e em quem você deveria ser.


Me perdi em meio a tanto caos, eram mais fragmentos de mim do que conseguia contar. Nunca descobri qual dessas confusões sou eu.


De todas as maneiras, ajuntar-se é necessário para aqueles que querem ser lembrados. Ninguém se lembra de um copo quebrado. Admito minha dor em confirmar que provavelmente serei esquecido, no instante em que verdadeiramente descobrirem quem eu sou.


À todas versões de mim que passarão desapercebidas, um brinde! A queda sempre foi o melhor dos espetáculos, companheiro.


No final, prego-lhes uma peça: Te prometo a reconstrução que leva à memória, mas os bastidores lhes contarão a história de alguém que comprou um novo copo.


Reconstruir é complexo demais para alguém que o “quebrar-se” já foi quase um ponto final. Quando a máscara atual não me couber mais, a próxima será minha opção.

Por Shaolin, o matador de porco

5 comentários:

  1. Shaolin, gosto da sua forma de se comunicar com quem lê seus textos, aproxima o leitor do autor. Seus textos são sempre constantes em qualidade e sentido.
    Com afeto, Argus.

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  2. Querido Shaolin, a poesia intrínseca de seus textos sempre me toca e os breves infinitos momentos de suas confissões tem uma beleza encantadora. Garanto que se identificar em meio a tantas confusões e tantos "eus" que nos formam é, de fato, caótico. Somos tantas coisas, formados por tantos momentos e sentimentos que nós mesmos, por vezes, tornamo-nos incompreensíveis à nossa própria mente. Desistir jamais será uma opção e espero que o quebrar-se nunca seja o ponto final. Brindo contigo à todas as tentativas de nos tornarmos mais nós mesmos e à todos os erros dessa longa caminhada. Por fim, obrigado pela reflexão e e espero ansioso pelo próximo texto, com razão.
    Um abraço, Ford

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  3. Sabe, Shaolin, eu sinto nos seus textos uma luta que você trava com o futuro. Como um escritor que ao escrever, pergunta a si mesmo se será lido, se terá valido a pena todo o esforço. Com a preocupação se será lembrado.

    Acho que naquela semana , na qual falamos sobre as redes sociais, você fez uma afirmação parecida sobre ser mais fácil usar uma máscara. Agora, você também escreveu sobre preferir um copo novo. Eu admiro a sua coragem de assumir que prefere usar uma "armadura". Porque, depois de tanta dor, você precisa continuar vivendo. E é claro que é ótimo se perder, viajar por tudo aquilo que você é, só que não temos mapa, é um caminho em apenas um sentido, você não pode voltar. Como você mesmo disse. Tudo isso é cansativo demais.

    Enfim, seus textos sempre me fazem refletir bastante sobre uma perspectiva mais prática do que é a vida. Você me lembra que é preciso levantar a poeira e dar a volta por cima.

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  4. Shaolin, seus textos são os que mais me fazem refletir, e não sei exatamente o motivo, mas acredito que eles se destoam dos outros textos. A maneira como você escreve, como você constrói o texto, como você faz inúmeras reflexões sobre um mesmo tema me deixa surpreso toda vez, meus parabéns.
    Freddie Mercury

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  5. Shaolin, querido, como sempre, que texto lindo, me fez e ainda me fara refletir sobre algumas coisas, e é sempre bom mudar um pouco o rumo dos pensamentos. Beijos, Manu.

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