sexta-feira, 27 de maio de 2022

Carta aberta a Ford Prefect.

Caro Ford,

Que enorme satisfação existir e ser transformado em texto através das palavras de alguém cuja escrita eu admire tanto. Você foi exímio ao examinar e me levar numa viagem através do meu próprio sobrenome fictício. Argus é um nome que não posso revelar porque escolhi, porque implica demais na minha identidade. Já Stoneheart é construção minha, que tem muito a ver com a jornada nos textos que construí até aqui. Eu prometi a vocês uma jornada, e hoje vou levá-los num novo passo. Meu nome.

Não o meu próprio nome, no entanto. Não tenho interesse em transportar minha identidade pra fora daqui. Tudo que Argus significa pra vocês, quero que vocês mantenham no Argus, pra que vocês olhem uns para os outros acreditando que eu possa estar ao lado de vocês, sem que vocês saibam. Ford me levou a enxergar Braveheart, uma versão diferente e mais artística de mim mesmo, mas eu me apeguei demais à rocha dura. Ela é meu conforto. O guerreiro mais corajoso pode se quebrar, mas uma rocha firme é difícil de partir.

No entanto, não é impossível. Sabe por que escolhi esse nome? Quem se lembra das aulas de Biologia vai saber que a vida e a matéria orgânica são originadas das rochas, num longo processo chamado Intemperismo. Como disse, muito me machuquei durante minha vida, e me tornei como uma rocha, mas de alguns anos para cá eu percebi que isso apenas me traria isolamento e uma degradação pessoal. Ninguém seria tão prejudicado por mim quanto eu mesmo. Por isso, eu permiti meu coração rochoso a passar pelo Intemperismo.

Aos poucos, eu aprendo a me desmontar, a esfarelar, me desintegrar, me remontar, degradar e florescer novamente. Aos poucos, eu me desfaço e refaço num compasso que nem todos conseguem acompanhar, mas um coração de pedra nunca foi uma significação da minha incapacidade de ver um futuro mais brilhante, pelo contrário. Stoneheart é justamente a promessa de que minha esperança de renascer há de se cumprir, não importa quantos milhões de anos eu espere. Por hora, eu deixo a chuva, o vento e o Sol mudarem minhas estruturas. Um dia, quem sabe, eu não escreva mais sob o nome Stoneheart, mas até lá, vou me recostar em minha cadeira e aproveitar o processo. Da rocha crua e degradada, um dia ainda há de emergir não mais Argus Stoneheart, mas quem sabe Argus Evergreen.

Ford Prefect tem um olhar perspicaz e muito afiado, e ler o que você acha de mim foi muito reconfortante e gratificante. Você tem um toque especial, uma magia no jeito que você escreve, e fiquei encantado pela forma que você pode me captar nos seus parágrafos. Uma experiência muito prazerosa. Você ainda ver esse coração corajoso sendo ainda mais criativo e artístico no futuro, e desejo ver sua trajetória ser tão frutífera quanto eu espero que a minha seja.

Com admiração,

Argus Stoneheart (por enquanto).

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