sexta-feira, 6 de maio de 2022

Nunca é Tarde para Desistir de Tudo


Eu poderia estar escrevendo sobre mil coisas agora. Mas vou falar de futebol. Vou falar sobre uma coisa que até hj não sei se me arrependo. Certamente não queria ter largado, mas não sei se chego a me arrepender. Ontem, vendo um pedacinho da história do Vini Jr. durante o intervalo de jogo fiquei mais uma vez maravilhado: O cara é G I G A N T E. "Podia ser eu ali". Provavelmente não, mas eu certamente estaria fazendo algo maior do que o que faço agora se não tivesse desistido. 

Durante o Ensino Médio eu já tinha uma fama de sedentário. Eu ainda me considero uma pessoa relativamente ativa, mas eu sempre matava as aulas de educação física e também, fama é fama. Sabe como é. Em um dos momentos em que faziam piadas sobre isso, uma garota (daquelas quietas q geralmente a gente não percebe nem que está lá) de repente falou "Mas vc já fez esporte, não fez?".
   - Já... - a pergunta me pegou de surpresa. - Eu jogava futebol quando era criança.
   - E você era bom, não era?
   - Ah, eu era muito bom. Eu era o melhor - eu não consegui deixar passar essa oportunidade de me gabar, mas como eu ainda olhava para ela intrigado, ela respondeu ao meu olhar.
   - É por causa da sua panturrilha - disse indicando minhas panturrilhas com um gesto contido - É... muito bem desenvolvida.

Fiquei muito desconfortável sabendo que ela ficava olhando e analisando minhas panturrilhas assim... Foi muito estranho. Cheguei em casa com isso na cabeça. Me deixou bem reflexivo. Por que eu parei? Não queria ter parado. Okay, eu quis, mas não devia. Foram coisas momentâneas, cansaço, moleza, pirraça de um moleque mimado. Não devia ter parado. Cheguei a falar com minha mãe:
   - Mãe, eu quero voltar pro futebol. 
   - Agora?! Meu filho, olha pra você. Agora não adianta mais. Você tá fora de forma... Com atleta não pode ser assim, você sabe: tem um processo e você interrompeu. Eu não vou pagar pra não dar em nada só porque você tá entediado. Sinto muito, vá caçar o que fazer.

Fiquei desolado, mas ela tinha razão. Não fazia sentido voltar a sonhar com isso.

Eu poderia ter falado de mil coisas das quais desisti. Algumas eu deixei de lado ainda no início; outras eu larguei quando já parecia tarde demais para desistir.
 Eu poderia ter escrito sobre o curso de iniciação científica ao qual me dediquei com afinco até o fim durante a pandemia, mas não me incomodei em pegar o diploma. Não tive ânimo para juntar uns documentos ou algo assim. Sei lá. Mas podemos concordar que esse teria sido um texto bem chato. 
Por Akil Ubirajara

5 comentários:

  1. Primeiramente, sinto muito pelo que aconteceu, é difícil desistir de um sonho, ainda mais se bater o arrependimento por não ter sido persistente o suficiente. Sei que às vezes é complicado falar sobre momentos tristes, mas você fez isso muito bem, suas palavras me tocaram de verdade. Enfim, gostei muito do seu texto!

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    1. Muito obrigado pelo comentário, Canoa Furada! É sempre bom saber que uma coisa escrita por mim toca alguém de alguma forma

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  2. Akil, de vez em quando sinto o mesmo que você e fico pensando o que eu estaria fazendo agora se tivesse me dedicado ao Futebol, poderia estar na mesma, mas é ruim o sentimento de dúvida que fica. Enfim, parabéns pelo texto!

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  3. Obrigado, Freddie! O futebol é sonho de muitos, mas ainda assim é bom saber que houve essa identificação.

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  4. Querido Akil, gostei muito da escolha de construção do seu texto! Durante a leitura, senti como se estivéssemos em uma conversa sobre as decisões da vida. Assim como você, também já me questionei sobre decisões tomadas no passado. Muitas delas poderiam ter sido diferentes. Mas, acredito que nossas escolhas nos guiam para determinadas trajetórias. Você não seguiu no futebol, mas ainda pode ser brilhante em outro caminho!

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