sexta-feira, 5 de maio de 2017

62 primaVeras

Sexta feira, meu dia de folga é interrompido por um pedido de minha mãe:
“Filha, você pode levar seu avô a fisioterapia?”
Aceito a tarefa e sigo para rua, acompanho o cansado passo de meu avô enquanto ele me conta histórias sobre sua juventude. Seus relatos duram até o momento que ele finalmente é chamado para o atendimento na clínica municipal.
Fico sozinha na sala com vários idosos que assim como meu avô, após anos trabalhando, não conseguiam pagar um plano de saúde com sua pobre aposentadoria. Por conta do tédio começo a ouvir o papo de duas funcionárias sobre uma de suas colegas de trabalho:

“Menina, quanto tempo a Vera trabalha por aqui?”
“Deve ter mais que trinta anos, mas se depender dela, ela vai morrer trabalhando aqui”
“Nossa, eu não consigo me imaginar fazendo isso, vou concluir meus anos e vou me aposentar, não quero nem saber”
“Ela deve é estar com medo de morrer depois de se aposentar, 5 funcionários daqui ficaram enrolando para se aposentar, para ganhar melhor ou por terem começado tarde a trabalhar, e quando finalmente saiam, ficaram doentes e morriam”
“Mas isso não deve ser uma maldição, deve ser mesmo é a idade, como fica a saúde de uma pessoa que trabalha até os 70 anos?”

A conversa que ouvia das funcionárias logo troca de assunto, porém as palavras ficam ecoando em minha mente. Como seria essa Vera? Será que ela realmente estava feliz trabalhando por tanto tempo? Ou será que fazia por necessidade?
Após algumas horas volto pra casa e assisto meu jornal como de costume, o tema como sempre: “reforma da previdência”. Porém dessa vez a matéria mexe mais comigo, os 62 anos que antes via como algo tão distante que nem deveria me importar começam a me assombrar como um fantasma. Penso se conseguirei ser como uma Vera, se aguentarei tanto tempo de trabalho gostando da minha profissão, como farei para aguentar se não tiver o mesmo prazer em trabalhar daquela desconhecida senhora, e me vejo em uma situação sem saída. Afinal, querendo ou não, gostando ou não, aguentando ou não, todos teremos que ser Veras. Só podemos agora rezar para quando chegarmos a tão esperada aposentadoria não encontrarmos na esquina a nossa morte.

Morena_de_Inhaúma_23

5 comentários:

  1. A princípio o texto flui, mas não achei que teve tanta relevância como poderia ter. O final ficou um pouco chato, podia ter sido melhor.

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  2. Gosto da contextualização. Por outro lado, poderia ter uma sonoridade melhor. No geral, é bom!

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  3. Achei bem interessante, traz um certo suspense e que, pelo menos em relação a mim, fez eu me sentir parte do texto, como se eu próprio estivesse acompanhando a conversa das duas funcionárias e começasse a imaginar a vida de Vera. Bem escrito e bem bolado.

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  4. Achei bem interessante, traz um certo suspense e que, pelo menos em relação a mim, fez eu me sentir parte do texto, como se eu próprio estivesse acompanhando a conversa das duas funcionárias e começasse a imaginar a vida de Vera. Bem escrito e bem bolado.

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  5. O início do texto é bom mas ao caminhar para o final, ele murcha. De acordo com o fluxo da crônica eu esperava um desenvolvimento e um final melhor.

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