sábado, 6 de maio de 2017

ATÉ A ÚLTIMA GOTA

Que saudades do meu palácio na Transilvânia, dava de dez a zero nesse do planalto. Bom, fazer o que, é o que o trabalho me exige. Ossos do ofício, não é mesmo?
 Não acreditei que teria mais uma reunião naquele dia, estava exausto. Passei o dia acordado, virado. Morgana já havia me adiantado por telefone, se tratava de um rombo orçamental. Não é possível que precisássemos captar ainda mais recursos. Podia jurar que os cofres públicos estavam cheios. Bom, quanto antes eu começasse, antes eu voltava pro caixão. Fui abordado pela minha secretária, agora pessoalmente.

-Excelentíssimo, com licença.
-Boa tarde Morgana, o que trazes pra mim?
-Vossa Excelência, seus ministros já estão lhe aguardando na sala de reuniões.
-Os sanguessugas?
-Acho que pode-se dizer que sim.
-Muito obrigado, avise que já estou indo.
-Disponha Senhor Presidente, avisarei agora mesmo.

Ninguém merecia aqueles lacaios sedentos, sempre tentando sugar até a última gota de sangue (literalmente) e suor de todos os trabalhadores. Não que eu seja contra, mas discrição é importante nesse ramo, e aquilo estava ficando escancarado ao extremo. Fui ao banheiro, lavei o rosto para dar uma acordada. Não me dei o trabalho de olhar no espelho, obviamente. Sai e fui direto para a sala de reuniões. Chegando lá me deparei com os sanguessugas andando de um lado para o outro.

-Boa tarde senhores, sentem-se, por favor. De que se trata essa rombo que me foi anunciado.

 O lacaio responsável pelo planejamento anunciou:

-Senhor, estamos zerados.
-Como assim lacaio, estávamos com um superávit considerável até semana passada.
-Então senhor, desviamos alguns bilhões para a compra de sombrinhas e protetores solares e agora estamos sem nada.

Era só o que me faltava, tínhamos que pensar em alguma solução, e logo. Os brasileiros podiam não pegar em garfos e tochas, mas se descobrissem esse desvio, meu mandato ia acabar mais rápido que o da minha última presa.

-Bom senhores, precisamos de ideias, sugiro começarmos um brainstorming. Sanguessuga da saúde, você está com a mão levantada, diga.
 -Boa tarde senhor. Pensei em comprar produtos derivados de sangue superfaturados. Poderíamos fechar um acordo com algum banco de sangue e...
-Essa é velha, os vampiros do Serra ja fizeram isso. Sanguessuga da fazenda, alguma ideia?
-Bom senhor, e se imprimíssemos mais dinheiro?
-Pelo amor de Dracula, vocês ao menos pensam antes de falar?

O tempo foi passando, e nada. Estava quase suspendendo a reunião quando o sanguessuga da previdência social se levantou e disse:

-Já sei! E se criássemos uma maneira de escravizar os trabalhadores? Obrigaríamos eles a trabalhar até seu último suspiro, e quando não conseguissem mais, descartaríamos os cadáveres e repetiríamos o processo com os jovens. Eu chamaria esse movimento de "A Lei do Ventre Preso".
-Excelente ideia, mas o nome não me agrada nem um pouco, que tal... É isso, vamos chamar essa manobra de "reforma na previdência".

Por Paulo Terra

5 comentários:

  1. Adorei o texto! o tom cômico e irônico que se refere muito bem ao que estamos vivendo! sanguessuga da previdência e vampiro colocando em prática a nossa futura miséria!

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  2. Gostei do texto, mas achei meio óbvio o decorrer da história. Como se quando lêssemos, já soubéssemos exatamente o que fosse acontecer no próximo parágrafo.

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  3. Piada meio batida, mas ainda sim bom texto.

    Abs, Sr.Omar

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  4. Gostei do tom cômico mas acredito que o texto em si ficou fraco, esse tom poderia ter sido mais bem explorado e elaborado.

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  5. Gostei do texto, porém achei ele fraco pois foi mal elaborado. Poderia ter explorado melhor o potencial do texto

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