sexta-feira, 5 de maio de 2017

Temeremos

Números, estatísticas, gráficos e mais gráficos. Especialistas, economistas, mentes pensantes e letradas, enfim, “a nata da sociedade”. Não só explicando, mas fazendo palpites de lá e de cá, caminhando devagarinho para impor regras mascaradas e maquiadas de opiniões. Minuciosas análises para proporcionar a mim, ignorante trabalhador, bons conselhos sobre os quais não posso mais opinar frente a tantos termos e jargões acadêmicos. Eu, que acordo cedo todo dia para sustentar a riqueza das empresas, que tenho descontado do salário “pequenas contribuições” supostamente responsáveis por assegurar uma terceira idade de bem estar que, diga-se de passagem, depois dessa tal reforma precisará ser reavaliada quanto a seu numeral atribuído.
Por que seguir uma audiência, uma parcela que sentada assiste e aplaude minha exploração diária? A voz não é dada a mim, pois quem vivencia essa realidade precisa assim continuar, fora que não é de hoje que esse país presencia burguesia dando “pitaco” em situação que não lhe é pertencente. Como pode ser tanto dinheiro arrancado de mim e ainda existirem esses tais rombos? É por isso que, diante de uma infeliz coincidência, digo a você, também trabalhador, que temos muito a temer. 
Temos a temer pela mulher e sua jornada dupla nessa sociedade ainda machista. A mãe de família lava, passa, cozinha e ainda vai trabalhar fora para receber menos. Mas calma, agora a igualdade vai ser protagonista em uma especificidade: mulheres e homens trabalharão pelo mesmo tempo. Temos a temer pelos pobres que ficarão à mercê do Estado enquanto o rico se aposenta por previdência privada, pelo menos agora não temos mais essa responsabilidade atribuída ao governo, a ela passemos para às mãos dos grandes empresários. Temos a temer pelo cidadão que se pergunta como vai trabalhar até os 65 anos se na sua cidade o que se vive é beirando os 62. Temos a temer pelo preto, pelo pobre, pelas minorias que somam a maioria, temos a temer pela população. 
Agora eu, que me encaixo em todos esses temores, devo me contentar, olhando de forma cínica paras as positividades minimamente existentes, com o pensamento de que o Brasil possa ser melhor governado por quem já desfruta da calmaria da aposentadoria desde seus 55 anos.

Amora Flor

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