Palavras de um futuro não tão bom

Querida Laura,

Estou escrevendo para te contar como têm sido aqui no futuro. Ou melhor, para te contar como vai ser o seu futuro.

Eu sei que você não tá nem aí para o dia de amanhã, mas eu já estou com 61 anos e não consigo mais adiar essa conversa. Estou cansada. É isso. Cansada! As coisas não têm sido tão fáceis por aqui. E eu nem tô querendo te desanimar, é só esperança que você possa mudar alguma coisa na nossa vida.

Eu sei que você ainda está no Ensino Médio, mas quero te falar um pouquinho de como vai ser nos próximos anos e tudo o que eu teria feito diferente. Ah! Se eu pudesse voltar atrás...

Sabe o 7 x 1? Tá, eu sei que ainda tá doendo. Mas vamos sofrer uma derrota muito mais difícil de superar. O placar será 61 x 20. Calma, Laura, eu vou te explicar.

Vai ter um golpe. Vão acusar a Dilma de um montão de coisas, tirar ela do poder e o Temer vai assumir. Mas o pior ainda estará por vir. Ele vai disfarçar o retrocesso de reformas... É por causa de uma delas que escrevo hoje.

Menina, você vai conseguir passar para Jornalismo. Em 2017. Mas seria melhor se você desistisse desse pré-vestibular e começasse logo a trabalhar.

Assim que você começar a estudar na UFF, vão convocar uma greve geral e mamãe, superprotetora como sempre, vai achar melhor que você fique em casa. Desobedeça ela, vá lutar pelos seus direitos.

Você vai preferir dedicar o tempo na faculdade aos seus estudos e estágios. Sério, talvez esse seja um grande erro. Que tal um emprego de carteira assinada?

Depois de formada, a vida não será só flores. Entre um emprego e outro, você vai ficar algum tempo desempregada, vai trabalhar de freelance, vai optar por ficar um tempo em casa para se dedicar a outros projetos... Mas, olha, pense duas vezes antes de sair daquele emprego porque o seu chefe é abusivo. E engula sapos quando não tiver mais suportando outra empresa. Vai ser melhor assim.

Ah! Esquece essa história de conhecer o mundo inteiro. Investe esse dinheiro em uma previdência privada, por favor.

Eu estou cansada, Laurinha, muito cansada. Estou próxima da idade mínima para me aposentar, mas não contribuí 300 vezes. Além do mais, a aposentadoria parcial também não será suficiente para eu manter minha casa, então vou ter que trabalhar por mais tempo, até conseguir a integral... E, sinceramente, não sei o quanto ainda aguentarei esperar.

Por isso, minha versão menina, te escrevo. O nosso futuro está em suas mãos. Gostaria de poder voltar no tempo para te falar essas coisas pessoalmente, mas a tecnologia ainda não evoluiu a esse ponto. Escrevo, então, como forma de reflexão. Ah, se eu pudesse voltar atrás...                               

Com amor,

Laura Haruna