sexta-feira, 5 de maio de 2017

Ê, Maria

– Ê, Maria, você viu o que o repórter disse ontem na televisão? Parece
que aquela tal reforma da previdência foi aceita. – Comentou a patroa – Você
entende algo desse assunto?

A doméstica que varria o chão, parou um pouco e olhou para sua
senhora, vendo que Lourdes, aquela senhora de sessenta e cinco e chefe de uma
grande empresa, estava sorridente enquanto folheava o jornal do dia.

– Não muito, senhora. Vi só que aquele tal mocinho, aquele repórter
novo, estava falando que vai ter que trabalhar mais. – Voltou a varrer. – Mas a
senhora já está para se aposentar, não é mesmo?

Lourdes sorriu e balançou a cabeça em confirmação.

– Sim. Já atingi o limite que eles querem, aliás, eu tenho quase trinta anos
de carteira assinada, sabia? – Novamente a empregada parou e olhou para a
patroa, a mesma também a olhava. – Ê Maria, assinamos sua carteira faz apenas
dez anos... quantos anos você tem mesmo?

– Cinquenta e seis, senhora.

– Ê Maria, que bom que somos amigas, né? Parece que ficaremos juntas
por mais alguns anos.



- Jackson

7 comentários:

  1. Interessante. Mostrar a bilateralidade é um trunfo. Gostei do tom, parabéns.

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  2. Um ótimo texto. Gosto da maneira como o autor consegue passar a informação ao leitor utilizando um diálogo entre uma empregada e sua patroa. Mesmo sendo um texto curto, é um texto criativo e esclarecedor. Parabéns.

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  3. Gostei muito de como conseguiu apresentar os dois principais lados da história, destacando relação de exploração entre patrão e subordinado, mas senti falta de uma continuação. Penso que a história poderia ter se desenvolvido mais.

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  4. Gosto da sutileza com que trata a relação hierárquica entre patroa e empregada.

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  5. Interessante o contexto criado para abordar o tema. Muito objetivo e perene.

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  6. Mais um texto que diz muito em poucas linhas. Bom de tudo.
    Corroboro os elogios dos colegas.
    Um abraço.

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  7. Gosto dessa quebra de paradigma que me pegou de surpresa, também gosto da objetividade do texto em um curto espaço, mas não por isso com pouca crítica; muito pelo contrário!

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