terça-feira, 23 de maio de 2017

Imprensa

Imprensa. Segundo o código de ética da profissão, o jornalista deve relatar fatos de interesse público com objetividade e imparcialidade. É a chamada isenção jornalística. Um jornalista pode ou não fazer parte de um veículo de comunicação. A imprensa é o coletivo de jornalistas. Vocês lembram daquelas aulas de português? Coletivo de ilha, arquipélago. De lobo, alcateia. Então, de jornalista, imprensa.

É curioso como a gente trata a imprensa como uma entidade mística, onisciente, onipresente e onipotente, mas esquece que ela é feita de… pessoas. Mas se a gente levar essa lógica de poder pros veículos de comunicação - especificamente os grandes conglomerados - isso não chega a ser um absurdo.

[Foto do Silvio Santos]

Tirando da conta empresas como Google, Amazon e Netflix, teremos 9 famílias que controlam a comunicação de massa no Brasil. Só as 5 principais que todo mundo conhece são donas de 289 emissoras de TV, 301 estações de rádio, 101 impressos - além de 34 operadoras de TV à cabo. Se você é uma pessoa que assiste muita televisão ou lê alguma revista, não é exagero dizer que essa galera controla praticamente tudo o que você consome.

Mas tudo bem - ou melhor, não tá tudo bem. E por que? Pra começar, existe uma coisa muito importante chamada linha editorial. A linha editorial é uma política adotada pela direção de um veículo que diz como os funcionários devem tratar um determinado assunto. Ou seja, ela influencia de maneira decisiva no produto jornalístico. As informações que nós recebemos e a maneira como recebemos é moldada segundo os interesses do veículo.

Outro fator importante pra entender como o jornalismo funciona no Brasil é a publicidade. E aí entram dois conceitos que são mídia e o valor da notícia. Eu falei antes aqui sobre conglomerado de comunicação, mas de um tempo pra cá a gente só ouve falar em conglomerado de mídia - que é a versão moderninha do conglomerado de comunicação.

[Foto do Mauro Wolf]

Segundo o italiano Mauro Wolf, especialista em sociologia da comunicação e da mídia, valor-notícia significa elencar os fatos mais relevantes pra serem noticiados. E quando a gente pensa em notícia, associa à informação. Quando pensa em mídia, pensa em publicidade. Mas quando as empresas misturam notícia e publicidade vira tudo uma salada mista.

As empresas de comunicação - ou mídia - tem como objetivo vender notícia. E isso não é feito debaixo dos panos. Não é raro ver gente importante no meio dizer que sem anunciante não existe jornalismo.

[Foto do Reinaldo Azevedo]

Então, a imprensa, [fazendo aspas com as mãos] responsável por desenrolar os acontecimentos de maneira isenta [termina o gestual], é em grande parte condicionada por interesses próprios e dinheiro. Bom, quando o termo valor começou a ficar ambíguo, a história da isenção começou a virar piada de mau gosto.

A questão é: como fiscalizar se os grandes grupos midiáticos fazem um jornalismo correto? Com tanto monopólio e tanta linha editorial que se contradiz pra atingir todos os públicos, fica difícil ter certeza de qualquer coisa.

[Foto do da Globo]

Os áudios do Joesley com o Temer, por exemplo. O jornalista que deu o furo, não por acaso faz parte de um império de mídia. Aí a gente pode começar a entrar em teoria da conspiração, daqui a pouco alguém grita “Globo Golpista”... se bem que… né? Enfim, não parece estranho que a notícia que pode mudar todo o cenário da política brasileira tenha sido dada por alguém que há pouco tempo fazia coro aos que pediam a cabeça da Dilma e a ascensão do próprio Temer?

[Gravação] “É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional” - Sergio Machado.
      “Com o supremo, com tudo” - Romero Jucá.

[Foto do Temer]

Precisamos rediscutir o papel da imprensa na sociedade. As vezes a gente cai na armadilha de querer acreditar em algo, mas a gente precisa ter maior rigor. É claro que o pai do Michelzinho não tem legitimidade nenhuma pra governar. Mas quem são os atores por trás do neo-Fora Temer? Quais são os interesses por trás da mudança de opinião repentina dos comunicadores? A discussão é mais ampla, profunda e lamacenta do que a gente pensa.

[Diretor] “Corta”.
[Gregório] Foi? Valeu, galera, vou pra casa que hoje foi puxado.
[Gregório sai da cadeira cantando] Quanta lameira, Brasília, quanta lameira...

Setekh, o Redimido






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