sexta-feira, 5 de maio de 2017

Crônica das Celas

“E aí, irmão, ficou sabendo?”
“Do quê?”
“Soltaram o José Dirceu, mano.”
“Quem?”
“Aquele que foi deputado de São Paulo lá nos anos 90. Que era do governo do Lula. Não lembra?”
“Ahh, sei quem é. Mas ele ‘tava’ preso, é? ‘Tô’ por fora desse negócio de Lava Jato, de operação, sei lá.”
“’Tava’ preso. Fez o que esses políticos aí pilantras sempre fazem, né? Corrupção, lavagem de dinheiro. Aquele juiz, o Moro, tinha condenado ele por mais de 30 anos. E o cara não ficou preso nem 2 anos...”
“E soltaram ele?”
“Uns políticos aí votaram pra libertar ele. Eu vi um guarda passar pelo corredor das celas com um jornal de ontem na mão, aí eu vi isso”.
“Pô... Os caras roubam dinheiro de imposto, dinheiro da população e o povo que se ferra porque fica sem saúde, sem essas coisas...”
“Sobra até pros velhos, essa reforma da previdência aí não vai deixar ninguém mais se aposentar.”
“Esses bandidos de terno sendo soltos e a gente aqui nessa lata de sardinha”.
“Mas me diz, por que tu veio parar aqui? Fez o quê?”
“Me confundiram com um sequestrador por causa da tatuagem parecida. Tô aqui faz uns 2 anos esperando julgamento porque não tenho dinheiro pra pagar advogado não.”
"Sério?"
"É. Não vejo minha filha faz 2 anos porque tenho vergonha dela me ver assim, tá ligado?"
“É... A gente aqui preso e eles lá em Brasília...”

Lukas Salazar

7 comentários:

  1. Rolou uma sincronia com os dois temas propostos, mas faltou a ideia de dar nova metáfora. Ainda assim é um bom texto.

    ResponderExcluir
  2. Pareceu só uma conversa mesmo. Pertinente mas, ainda assim, acho que não contemplou a metáfora como dito acima.

    ResponderExcluir
  3. A ideia de juntar os dois temas é boa e a proposta da crônica de ser um diálogo entre dois presos é criativa. Acho que o texto pode ser um pouco falho, no entanto, quando se trata da união dos dois temas. Talvez pudesse ser melhor desenvolvido de outra maneira, com um pouco mais de lirismo.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. O final deixou a desejar. Muito aberto, vago.

    ResponderExcluir
  6. Acredito que ficaria visualmente melhor se usasse o travessão em vez das aspas. E acho que as marcas de oralidade ficam melhores fora das aspas também. Gosto do texto mas concordo com a Nina: o final deixou a desejar.

    ResponderExcluir
  7. Concordo com os demais acerca do final, mas achei corajoso a tentativa de abordar ambos os temas e também senti falta de lirismo e objetividade.

    ResponderExcluir