sexta-feira, 12 de maio de 2017

Texto escrito em primeira pessoa do singular: ele


Todo mundo diz que a função de um jornalista é informar, transmitir a verdade, ser o mediador entre os fatos e o público. Agora eu, fui jornalista do próprio Jornalismo. Num momento em que ninguém ainda tinha alcançado de tão perto os fatos, consegui ter contato direto com a vida da perspectiva de lá. Levar a densa realidade que estava aprisionada, intocada para o mundo não foi tarefa fácil. Mas, dentre as tantas dificuldades da vida, a de fechar os olhos para a visão do outro lado da moeda seria a mais arrasadora e difícil para mim.
Informação, do latim "informare", significa dar forma. Fazendo jus ao significado da palavra, dei forma aos fatos, ofereci oportunidade à potencialidade de ser comunicação que aqueles isolados acontecimentos tinham. Se estão me perguntando como, lhes respondo: vivendo. Enraizado e apegado a um lugar eu nunca fui. Não é que eu não goste de onde nasci, na verdade amo, mas lá era chato. Eu me mudei, me mudei, saí da zona de conforto, imergi, me infiltrei, vivenciei. Não agradei a todos com minha missão, mas quem agradaria mostrando o campo de batalha na clareza do ao vivo, sendo este dentro do espaço adversário? Além do mais, essas pedrinhas no caminho se desfaziam comparadas às experiências inéditas que ser jornalista de guerra me proporcionou.
Se eu perguntasse a vocês se alguma vez já viram um formigueiro provavelmente todos responderiam que sim. Partindo desse pressuposto, peço então que o descrevam. Com essa visão de fora, apenas características superficiais seriam apresentadas. Não se prevê que por dentro daquela coisa simples, existam complexidades tão grandes. Então, se quiserem saber sobre um formigueiro perguntem a uma formiga, caso contrário, virem uma. Quando eu virei formiga, a complexidade que encontrei não foi tão exuberante quanto a dos formigueiros. Perdi colegas de trabalho, conheci inimigos, os entrevistei, fiquei cara a cara e foram os momentos que mais senti medo na minha vida. Mas reclamar dessas experiências seria não saber identificar que, colocando na balança, ser o veículo da notícia inédita até meu público pesou muito mais.
Agora, dentre todas essas características, vocês podem achar que me conhecem. Porém, digo que se realmente assim fosse, saberiam que não escreveria um texto portador de tantos autoelogios. Quem aqui tenta me descrever é apenas um admirador, um possível futuro jornalista ao qual aprendeu comigo que a parte mais importante a se cuidar num repórter de rua são seus pés, já que nada poderia ter falado de mim se lesionados ou sem eles eu estivesse.

Amora Flor

Um comentário:

  1. O texto começou muito promissor. Trechos como 'Agora eu, fui Jornalista do próprio Jornalismo' e 'fazendo jus ao significado da palavra' são fortíssimos. Sensacional.

    Mas ao passo que a partir do segundo parágrafo, dá-se início às informações que lemos na entrevista com Arnett de maneira literal, acho que perde um pouco da potencialidade do texto.
    Um abraço.

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