Decidi ir no protesto, nunca tinha ido, só dou meio apoio pelo face e torço para o melhor. Mas decidi ir no protesto.
Quando sai não sabia muito bem os rituais que tem antes ou durante os protestos, mas estava sentindo uma empolgação, uma força, andava rápido e mexia minhas mãos, colocava no bolso, acho que prendi o cabelo e soltei umas cinco vezes.
Na esquina encontrei a Luiza e fomos andando sem falar muito, felizes, era nossa primeira vez num protesto pelo nosso próprio futuro.
- Lu, fui falar com a minha avó da reforma da previdência e já de cara ouvi o bom e velho melhor mesmo era no meu tempo. Acredita que se essa droga passar, finalmente vou concordar com a velinha-
E entre risos a gente se olhou pensando que até tinha uma verdade nisso, como se no passado desse Brasil, que tem um Q de sombrio ainda de certa forma torta fosse comparado com a atualidade, poderia ter sido melhor?
Não sou descrente da força que temos como brasileiros, mas parecia que não tinha tantos quando chegamos na praça central onde estava marcada a concentração. Parece que está todo mundo vendo e fazendo uma vista grossa sobre esse governo ilegítimo, ou mesmo só aceitando e seguindo no seu comodismo.
Os gatos pingados até tinha um olhar de cumplicidade, de união da força. Mas fui no meu primeiro protesto e talvez tenha voltado com menos vigor. Como acordar desse piloto automático que só faz aceitar?
Eu não quero me imaginar usando uma fralda no trabalho para não perder tempo de trabalho. Sei que parece surreal, mas é o que vejo no futuro cada vez menos distante. Decidi que não vou acreditar que o tempo da ditadura era melhor do que o que virá, ou o que estamos, que é tempo de luta! E segui agora como militante, logo de cara no meu primeiro protesto, e com a certeza de que farei ser bom mesmo no meu tempo!
Coralina Leão
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