sexta-feira, 12 de maio de 2017

Te Guardo no Peito

Oi. Lembra de mim? Faz muito tempo, eu sei. A vida seguiu para ambos, mas nunca te esqueci.
Nunca duvidei dos seus sonhos e que você seria mais do que imaginávamos naquelas
conversas sobre o futuro.
Soube que enfrentou muitos riscos em nome da profissão. Mais do que isso, eu sei que
ninguém será como você. Sua coragem supera seus medos. Claro que tremeu, não foi simples
falar com aqueles homens ou ficar em guerras.
Ainda tenho seu olhar em minha memória, essa luz que penetra minhas angústias ao ver o
mundo e faz desaparecer. Me contraio por uns instantes e me dilato como gelo. Os estalos me
trazem o calor e levam a imaginar que esteja próximo ao meu corpo e então o entrevistador
faz outra pergunta e a imagem da televisão não é mais a sua.
Essas histórias que sempre conta para os outros assisto na internet. Já decorei cada
acontecimento, cada nome, cada país. Poderia dizer que sei tudo de cor, porém é sempre
diferente, as palavras são outras, seu corpo sempre congelado no mesmo ângulo, mas suas
caras... flutuo no seu riso, ele nunca desapareceu, minhas emoções seguem o ritmo das ondas
do seu pescoço que gesticula mais que suas mãos.
Se as pessoas fossem espelhos e você fosse o objeto refletido não faltaria esforço para fazer o
melhor no mundo, cada um em sua área, é claro.
O jornalismo é muito do que você fez dele, ou era. A essência de transmitir a verdade se
afogou, quem sabe ainda recuperem se buscarem nas águas certas.
Ganhou nome, perdeu cabelo. Ganhou confiança de quem temíamos, perdeu confiança de
quem te abriga. Ganhou espaço e dinheiro, não perdeu a fala simples e humildade de origem.
Jornalismo de risco, de morte, de guerra, não importa, nunca importou, o valor dado a esse
poderia ser qualquer outro contanto que começasse com essa palavra. J-O- R-N- A-L- I-S- M-O.
Do verbo à imagens a serem transmitidas, a veracidade é tudo que precisa ser exporta ao
mundo.
Ternos para encontrar pessoas de poder, fazer entrevistas, capacetes e roupas de guerra, o
pijama de casa, a camisa para ver os filhos. Te vejo apenas vestido de lealdade, felicidade e
prazer junto à câmera a qual registra e prova o que é capaz.
Ainda estou aqui, do outro lado das águas que nadou para levar aquela notícia de golpe. Te
espero como admiradora e principalmente para dividirmos os nossos sonhos como nas noites
estreladas em que éramos apenas eu e o Peter.

Ìzis Duarte

4 comentários:

  1. Essa, de fato, foi uma das que mais me agradou. Ótima abordagem e escolha do ponto de vista. Parabéns, autora.

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  2. Gostei muito do ponto de vista, uma das minha preferidas até então.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. O ponto de vista é muito criativo, acho que rompe muito bem os limites do acontecimento. Bem escrito, embora algumas frases tenham me deixado confusa. Mas foque nos elogios, pois seu texto merece.

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