Perdi a palavra ao vê-lo entrar, sentar, se acomodar... cumprimentar os colegas.
Perdi a palavra quando o vi se apresentar, dizer o que fez, o que fazia e o que haveria de ser feito.
Perdi a palavra ao observar sua imponência e sentir a presença do leão, humilde, por não dizer que tinha a força de um, e por, talvez, lhe faltar a juba.
Perdi a palavra ao ver que, na verdade, era aranha. Que traça sua teia perfeitamente. Persuasiva, encantadora... até que suas vítimas, "amigos interessantes", caiam em sua rede de coletar informações.
Perdi a palavra ao notar a facilidade com que me arrancava da cadeira do auditório e me transportava para dentro de suas histórias. Me via num ambiente de guerra, quase um soldado. Botas, roupa camuflada e fuzil. Havia muita gente morta, alguns identificados no uniforme como imprensa. Nesse momento, tremi de medo. Não quis mais fazer companhia a ele. Voltei para o Rio, e então...
Perdi a palavra. Ao perceber sua coragem de largar seu país, seu público, e seu povo. Enfrentar o exército mais bem armado do mundo e ir tomar um chá com a cabeça mais desejada.
Perdi a palavra ao ver seu peso histórico, conhecer sua experiência. E que, apesar disso, foi dado como impatriota ao relatar as atrocidades que sua própria nação cometia.
Perdi a palavra, mais uma vez. Por ele, apesar de ter seu trabalho admirado por muitos, ser pouco conhecido.
Mas não perdi a palavra quando, Peter Arnett, em seu traje social, anunciou que a guerra era a sua maior emoção. Que essa o motivava. Pois ela, ela tão natural a ele, quanto pegar no sono. Peter pertencia a guerra. O sonho? Lutar pela democracia e pela liberdade de imprensa.
11 de maio, quinta-feira. Foi o dia que Peter Arnett perdeu a palavra e a concedeu a mim.
Nina Campos
É uma crônica boa e bem estruturada, de forma a não cansar o leitor. O final é criativo. Parabéns.
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