Indescritível Realidade

O pedido da semana foi sobre Reforma da Previdência, mas estou há horas sentada, refletindo
e lendo milhões de notícias e discursos sem saber como escrever que, talvez, eu e milhões de
pessoas não conseguiremos nos aposentar graças ao governo. Como explicar isto para minha
mãe? Nunca teve carteira assinada e sequer sabe ler. Ela estava prestes a receber seus
benefícios por idade. Estava...
Lembrei. No fim de semana, comentou que viu na tevê a “ bagunça” que fazem nas cidades em
meio aos protestos da greve geral. Eu, porém, tive que pensar por alguns minutos, olhei para
todos os lados buscando formas de explicar que não era exatamente aquilo. Ela não
entenderia se eu dissesse que o jornalismo não está mostrando toda a verdade dos fatos,
perguntaria porque então curso algo que “mente” para a população.
A questão é que eu não sabia como expor para ela tudo que está acontecendo. Contar que os
protestos eram contra o governo, contra a reforma de previdência e tantas outras injustiças.
Não que era simplesmente porque os funcionários do estado não estão recebendo como
alguns noticiaram.
-Mãe, vamos sentar.
De início expliquei que “inventaram” um rombo nas contas. Ela encheu a boca para dizer que
existe, e mesmo sem entender os cálculos, ouviu especialistas afirmando, então era verdade.
Coloquei-me de exemplo. Para receber aposentaria integral terei que contribuir 40 anos. E a
dúvida dela foi a mesma que a minha: se em algum momento ficasse desempregada e não
tivesse como contribuir?
O ápice da discussão foi quando, após informar as mudanças proposta e que os maiores
devedores são os com maior poderio, minha mãe percebeu que estava sendo manipulada
pelas informações que assiste. Além de não entender porque quem pode pagar ficar em dívida
e não ser cobrado como a população.
Mas com toda essa viagem na minha memória ainda estou aqui, estagnada, com a Reforma
sendo aprovada, digerindo que não tenho forças para mudar a situação e que ainda não sei o
que escrever contra o golpe que se dá todos os dias na sociedade governada por essa
“ilegitimação”.

Ìzis Duarte