Do meu suor vi o país crescer, do meu suor vi o país ruir.
Do meu suor, ainda hoje, tiro sustento.
Meus cabelos brancos denunciam a experiência, mas não posso parar.
Das rugas que coleciono e dos calos que adquiri não tiro quase nada.
No fim do mês ainda preciso me alimentar, preciso me tratar, preciso me cuidar.
E aquilo que me dão é tão pouco!
Mas agora tudo vai mudar!
Vi na televisão que uma reforma vai acontecer e então todos poderão se aposentar tranquilamente.
Sei! Sou velha mas não estou gagá!
Ele acha que vai me enganar!
Agora meus netos sequer irão se aposentar e a eles também caberá meu sacrifício:
idosa, aposentada, trabalhadora... cansada.
Minha luta continua, mas a exaustão me persegue.
Como em uma disputa de voz e poderes, meu lado fica mais frágil. Falo mais baixo, grito mais fraco. Meu tornozelo fraqueja, as pernas doem, as costas latejam e os pensamentos se perdem.
No fim dessa vida, a mim e aos meus netos resta a incerteza.
Nos resta temer, nos resta Temer.
Sunny
nos resta Temer!
ResponderExcluirbom texto, um tom pessimista, porém o personagem mais velho foi bem explorado
Obrigada!
ExcluirAcho difícil não ser pessimista nessas condições.
Parabéns pela criatividade e jogo de palavras! Lamento apenas não poder ler alguns dos versos, mas seu texto é eficiente em transmitir as emoções da personagem.
ResponderExcluirMuito obrigada!
ExcluirNão sei bem o motivo do meu texto estar saindo para fora no site para PC.
Acho que o tom pessimista que Coralina cita é uma constante em todos os textos. O que mais me chamou atenção no texto de Sunny, além do título extremamente atrativo, foi a escolha preciosa das palavras. Temeridade. Sustento. Sacrifício. Exaustão. Incerteza.
ResponderExcluirTem algo de cidadania muito grande no texto. De fato, parece que Sunny tem plena consciência do mundo que a cerca. Profundo e perene (infelizmente). Ótimo!
Abraço!
Que elogio agradável de ler.
ExcluirGosto dos seus textos, sendo assim os elogios me deixam ainda mais feliz. Muito obrigada!