Meu nome é Maria Aparecida, tenho 54 anos, trabalho desde os 15, sou babá, nunca
tive carteira assinada. Comecei a trabalhar cedo, sabe? Papai morreu quando tinha 6
anos... Mamãe ficava presa em casa cuidando das crianças, éramos 7 no total, eu,
que era a mais velha, mais meu irmão que trazíamos dinheiro pra dentro de casa.
Sempre trabalhei em casa de família, cuidava dos filhos da patroa desde que nasciam
ate saírem da escola, no final acabava que viravam meus filhos também... hoje cuido
do Juninho, lindinho, já ta um rapazinho, logo logo voa pro mundo, e a gente vai
ficando né? (risos) Hoje continuo sustentando minha casa, pra mim e meus 3 filhos de
sangue... não pretendo parar de trabalhar tão cedo, meu mais novo só tem 15 anos, e
quero que ele estude, pra virar doutor. De vez enquanto ouço falar de aposentadoria,
muito complicado, não entendo, mas minha filha, que com muito esforço conseguiu
entrar em uma faculdade pública, disse que ela é muito importante e que querem
mudar... pra pior. Acho que sempre é assim né? Nos tiram sempre o pouco que temos
e dão pros que tem muito, os que tem pouco são muitos, e os que tem muito são
poucos, como que pode? Soube que ia ter greve... meus patrões mandaram carro me
buscar logo cedo pra não faltar o serviço, e me disseram o quanto absurdo tudo aquilo
era...fui ensinada desde cedo a ficar quieta, mas dessa vez me doeu, doeu porque
sabia que existiam muitas outras “marias aparecidas” nesse pais, doeu porque me
senti inútil, e doeu o meu silêncio, não podia deixar Juninho nem meus filhos na mão.
Engoli a seco, fingi sorrir e fui varrer a casa.
Agnes Waterhouse
Embora não seja muito diferente dos outros textos, sinto que o seu se destaca pelo lirismo. Também gostei bastante do final.
ResponderExcluirNão fugiu da visão geral dos outros textos, mas abordou um diferente aspecto específico muito real: o silenciamento. Além disso, promove a reflexão acerca da impotência do trabalhador totalmente dependente de sua renda. Gostei!
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