Apenas mais cinco anos?!

O senhor tentava seguir a passos largos, mas o dia cansativo agora cobrava seu preço. A viagem à capital durava algumas horas, e o ônibus lhe deixava há alguns quilômetros da fazenda.

     Ainda não sabia o que faria dali pra frente. Tinha esperado muito por aquele dia, desde que o filho havia lhe mostrado, meses antes, por meio da internet, que o momento de garantir a aposentadoria se aproximava. Não era muito, é verdade. Porém, o dinheiro era suficiente para tirar-lhe do intenso dia-a-dia no campo. Poderia até reformar a casa, talvez. No tempo, livre, também poderia aprender a ler, como o filho sempre o incentivara. Poderia dedicar-se a horta, ou até mesmo visitar seu amado Gabriel na capital.

     Entretanto, deveria deixar tais devaneios para trás.

     Pelo que o homem explicara, a lei para receber a aposentadoria tinha sido modificada — os anos necessários de contribuição haviam aumentado. Não entendia muito bem o motivo, mas a ele não restava o que fazer. Economizara apenas duas passagens, e não poderia voltar tão cedo à capital. Pensou em ligar para Gabriel, porém o filho se preocuparia. Decidiu esperar até que ele aparecesse na fazenda. São apenas cinco anos, afinal, pensou o senhor. Já se sentia velho, sim. No entanto, sentia o vigor físico de sempre. O que mais cinco anos de trabalho representariam?

      Já era noite quando chegou na fazenda. O dia a seguir seria longo, não de descanso, como previra. Quem dera fosse. Mas, era um bom trabalhador, e o dia a seguir seria de trabalho.

      Logo no raiar do dia, o velho ouviu o galo cantar. O cansaço novamente tentou reclamar-lhe seu preço. Porém, não se deixou sucumbir. Levantou-se, já com o pensamento no campo; afinal, era o governo quem lhe pedia mais cinco anos de contribuição.

      O que havia lhe restado, se não trabalhar?

Amon Valapar