- Vamo fazer diferente hoje, Corvo. Eu
pago.
- Que gentil. Ah, olha, o ex – digo,
apresentador! Não sabia que já estava começando.
- Uma Skol e... vai de quê?
- Sangue. Ah não, bebidas, sim, um
Martini. Desculpe, tava vendo as chamadas.
- Valeu irmão! Mas, então, fala,
como tá o trabalho lá em Brasília? Tá igual urubu?
- Um bocado. Sabe qual a diferença
entre um Corvo e qualquer outro necrófago?
- Isso é uma piada?
- Não, fatos curiosos. Piada é esse
texto. E o país.
- Show, brigado campeão. Fala, qual a
diferença?
- Bem, meus colegas de bandejão são
do tipo preguiçoso: espera, fica ali, na espreita, parecem aqueles
homens de baixa autoestima vendo mulher passar, precisa soltar um
grito pra sentir que tem aqueles centímetros de pica que não fazem
diferença, mas nunca com a coragem de chegar, chegar, sabe? Os
corvos não: não espero o moribundo se eu estiver com fome. Só vou
e me sirvo.
- É o que tá fazendo com o país? Tá
com fome assim?
- Nah, todo dia matam a gente de
vergonha, não falta é petisco. Eu to é esperando pra ver quem
morre primeiro, você ou a democracia.
- Ela.
- Apostado.
- Bilhões...
- É, bilhões...
- O que você faria com essa grana?
Hey, amigô!, mais uma faz favor!
- Ainda nem acabei cara!
- Mas eu já. Valeu abençoado. Vai,
fala.
- Não sei... nada pequeno, isso é
fato. Um triplex? Um heliporto! Isso, um heliporto!
- Cara.
- Que?
- Você voa.
- Mas o pó não, né.
- Pesado essa.
- Mas, sincero.
- Sinceríssimo!
- E você? Um bilhão cairia bem,
heim?
- E em quem não, né? Mas ia ficar
igual aqueles gráficos, não lembro onde que eu vi, com vários
balõesinhos apontando pra um cara no meio, sabe? Sei lá, aumentava
a oficina, é, uns equipamentos novos ia ficar bom, preciso concertar
o macaco, pagar a dívida ia cair bem também, o aluguel, mas ai dá
pra comprar o apê, pô, comprar o apê ia ser bom demais, concertar
o sofá...
- Comprar um sofá!
- É, comprar um sofá, umas roupas
novas, trocar o carro... Se bem que já nem dirijo muito né...
- Resumindo, um homem humilde esse
Mecânico. Não dá pra te acusar de capitalista, meu amigo.
- Ai cumpadre! Mais um aqui! Pois é.
Mas, se pegar o conjunto da obra...
- Mas ai qualquer um pode ser acusado
pelo conjunto da obra, né. Não tem grandes novidades nisso.
- Um brinde a isso. Ah, chegou.
- Hey, eu queria também!
- Ok, abençoado, traz mais uma.
- E algo pra comer também.
- Vai de quê?
- Lula.
- Tadinho, cara.
- Frita, faz favor. Obrigado.
- Ah sim. E então, acha que ele roda?
- A pergunta que não quer calar, a
torto e a direita. Mas, tá falando de qual “ele”?
- O Temer né, o Lula tá rodando
ainda.
- Sei não cara... Quando saiu a bombe
eu vi o país tropeçar e agora ele, ele, o país, tá na fila do
SUS. Nem eu, nem eles, nem ninguém sabe quem é o próximo a rodar
amigo. Chega, vamo falar de coisa boa. Como é que tá o Edu?
- Que tem o Edu?
- Adoro aquele cara. Suculento.
- Ah, ele tá bem, nada demais. O lava
a jato deixa ele ocupado, sabe? Ia sair com o pessoal esses dias,
mas, tá lá, preso.
- Imagino.
- Mas é engraçado, você ter falado
dele, esses dias comentou com a gente que o pessoal vinha tratando
ele bem, muito bem sabe? Eles chegam e fazem de tudo pra não
discutir com o cara, fica até chato as vezes.
- Pô, ordem do presidente né.
- Oi?
- É. Ué, “tem que manter isso,
viu”. Se não é do cunha, só pode ser do Edu do lava a jato né.
- Coincidência isso?
- Não, só piada ruim mesmo.
- Ai chefe! Agora sim!
- Ah, as lulas!
- Precisava pedir mais de uma?
- Achei que o escândalo todo fosse
por isso. O que tá todo mundo querendo saber, né? Se precisava de
mais Dilma.
- Ha. Ha. Ha.
- Assim que deveria terminar uma
crônica de comédia, não? Risadas?
- É, mas vai acabar assim:
companheiro, mais uma!
- Ah, olha, tá acabando o Jornal.
- A piada também.
O Corvo e O Mecânico
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