Ela acordou cedo e decidiu sair. Dois meses trancada em casa. Não aguentava mais. É a tal
pandemia. Vestiu uma calça vermelha. Vermelho é a cor da sedução. Ela se sentiria confiante.
Era isso que ela queria sentir. Os olhares de outros enquanto andava. Foi à padaria. Cinco
minutos de caminhada e um único bom dia? Voltou para casa cabisbaixa. O dia tinha dado
errado logo no começo. Ela ainda tinha mil trabalhos da faculdade para entregar. Nada feito.
Longe do estéril turbilhão da rua,
Tessa, escreve! Ou no caso, tenta.
O relógio ao fundo mostrava as horas passando. O documento precisa ser entregue antes da
meia-noite e ela não percebeu o dia acabando. Faltam quatro horas. Tique-taque. E o documento
em branco. Um encarava o outro.
Digitava. Tique. Apagava. Taque. Digitava. Tique. Apagava. Taque. Digitava. Tique. Apagava.
Taque.
Achou que não sabia escrever sobre o tema. Procurou vídeos no Tik-Tok. Uma hora depois,
assistia gatinhos vestidos de abóbora. Voltou para a tela em branco. Três horas.
Os vizinhos começaram a festa. Mais uma noite sem dormir. A dor de cabeça e o tique nervoso
voltaram. Espasmo da pálpebra. Ansiedade que lembrava a época do pré-vestibular. Duas horas.
E se ela não se dedicou o suficiente? E se ela tivesse feito o texto ontem? E se o professor não
gostar? E se ela fugiu do tema? E se os colegas não gostarem? E se descobrirem quem ela é?
E se?
Será que é o gene do medo? Se for, a culpa é dos pais.
Será que o texto está bom? Será que o título está bom? Será que ela devia escrever sobre
relacionamentos? Será que vão entender os sentimentos dela dessa vez?
Será que?
Decidiu deitar um pouco. A cabeça latejando. Uma hora para decidir o título. Se ela não tiver um
melhor, vai ser esse mesmo.
Tique.
Um minuto.
Taque.
Tessa Gray
Gostei bastante do texto Tessa! Também me sinto uma escritora sabotadora! Super te entendo, minha cabeça está lotada, infelizmente, desses questionamentos, queria poder dizer o contrário.
ResponderExcluirÍris M., obrigada pelo comentário. Feliz que gostou do texto. Triste que passamos pela mesma situação. É aquela pilha de nervos sempre que temos que escrever e tentamos adiar o máximo possível. Eu chamo isso de viver com emoção para não chamar de auto sabotagem.
ExcluirTessa Gray, você não decepciona nunca!! Sou uma grande fã dos seus textos- e relaxa que não sei quem você é! Ficou muito, muito bom o texto, Tessa. Ao longo do texto fui ficando agoniada pela agonia que você sentia. Acho que o título ficou muito bom porque explicou mais a sua ideia de auto sabotagem!
ResponderExcluirNão precisa ter medo do seu texto ficar ruim, porque ele nunca vai ficar
Ellis Bell, seu comentário é o mais lindo que recebi <3 Fico muito, mas muito feliz mesmo que alguém aprecie meus textos igual a você. Saiba que eu gosto muito dos seus textos também! Obrigada pelo elogio e o comentário!!
ExcluirCaramba, Tessa! Senti todos os seus sentimentos! Parabéns, adorei a forma progressiva como você escreveu. Achei incrível o uso do "e se", esse realmente está junto do medo, que esta junto da autossabotagem!
ResponderExcluirLetra x do alfabeto, muito obrigada pelo comentário. Muito feliz que você sentiu o que quis passar no texto. Vou te dizer que quando acabei de fazer ele e fui ler eu mesma fiquei desnorteada. Beijos e abraços <3
ExcluirTessa, pelo amor de Deus, você não estava sozinha nessa. Senti sua aflição e ela se misturou com a minha. A autossabotagem está até onde não faz sentido estar. Como pode, não é?
ResponderExcluirE fique tranquila, aposto que seus colegas (me inclua nessa) adoraram seu texto. Ficou incrivelmente bom. Parabéns mesmo!
Alice no País das Loucuras, obrigada pelo lindo comentário. Nem me fala. Eu mesma fiquei aflita quando fui reler meu texto. O pior é que a gente nem percebe que se auto sabota. Muito feliz que gostou! Beijos e abraços <3
ExcluirToda semana aguardo ansiosamente por seus textos , Tessa, e você, mais uma vez, não decepciona. Muito bom!!!!
ResponderExcluirJubiabá, obrigada pelo comentário. Muito feliz que sempre gosta dos meus textos! O sentimento é mútuo, pode ter certeza. Um beijão <3
ExcluirÓtimo texto! Me identifico bastante com você, também sou uma sabotadora!!!
ResponderExcluirAmei sua narrativa, parabéns!!!
Estrela Teté, obrigada pelo comentário! Fico feliz que tenha gostado. Triste essa vida de deixar as coisas para última hora, não é? Viver com emoção, eu gosto de chamar. Beijos e abraços <3
ExcluirMais uma semana e mais um excelente texto seu, Tessa!! Amei a construção do conceito e a escolha das palavras em cada frase. Incrível, parabéns pela escrita!
ResponderExcluirRosto Fosco, obrigada pelo comentário! Fico muito feliz que tenha gostado desse e dos textos anteriores! Comentários como esse fazem meu dia. Beijos e abraços <3
ExcluirAmei! Quem não se identificou, é privilegiado.
ResponderExcluirModo Anônimo, obrigada pelo comentário. Essa vida de escritor auto sabotador é difícil, não é? Um abraço apertado <3
ExcluirExcelente texto , Tessa. Incrível como você conseguiu transmitir perfeitamente o que está sentindo. Fiquei muito envolvido, mesmo.
ResponderExcluirRato Guaraná, obrigada pelo comentário. Fico feliz que tenha gostado do texto. Ajuda quando a escritora estava vivendo realmente o que está escrito no texto. Um beijo e um abraço apertado <3
ExcluirTessa, que texto incrível, como sempre! Adorei a forma como conduziu a história para o final a partir dos tiques e taques do relógio e, caramba, que nervoso isso foi me dando ao longo do texto. Simplesmente genial! Continue assim! <3
ResponderExcluirBeijos , Estrela!
Estrela do mar, obrigada pelo comentário! Fico muito contente que você gostou. Realmente, essa era a intenção! Até eu mesma depois de reler o texto fiquei tonta de tanto tique e taque. Beijos e abraços <3
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