Ao escrever, enquanto a caneta desliza no papel, ou os dedos se
movem pelo teclado, o pensamento vai organizando ideias, e
produzindo imagens, que por enquanto residem num lugar onírico. As
palavras, enfim, traduzem essas imagens. O desafio dessa vez é
diferente. Escrever sobre uma imagem que já existe. Algumas
imagens revelam-se sem qualquer barreira. Já outras, parecem estar
mascaradas de alguma forma e exigem mais para decifrar.
Apreciar um quadro é sempre um convite a viajar para um lugar que
se apresenta logo de cara, mas não se revela completamente sem
que dediquemos um tempo em explora-lo. Nesse momento estou
empreendendo essa viagem, e esse lugar que o quadro me leva não é
nada óbvio. Ascenção. Elevação. Mover-se para cima. A palavra do
título me leva a um lugar alto, elevado, grandioso. Mas a imagem logo
acima não quer concordar. Ela diz outra coisa, me prendendo mais
alguns minutos em frente a ela.
O primeiro olhar que dirijo ao palhaço traz as cores vibrantes que ele
veste. Cores alegres. Mas sua expressão não deixa a alegria me
atingir. Pelo contrário, tudo parece sombrio, e o seu olhar volta-se
para baixo. Atrás dele estão os degraus que já trilhou. Como toda
ascensão, antes da glória existe um caminho. Mas o Coringa não está
no topo, sua trajetória foi no sentido contrário. Ele ascende, então, ao
descer das escadas.
Esse palhaço não esboça alegria. Mas risadas são expelidas na
fumaça de seu cigarro. Um riso profundo, direto de seus pulmões.
Uma risada é difícil de conter, quer se libertar a todo custo. A risada
do Coringa também ganha a liberdade e toma forma, mas não com
alegria. Ela parece vir do mesmo lugar sombrio em que ele chegou no
auge de seu caminho, coroando essa ascensão.
Se as risadas surgem ao sorrir da alma, por motivos distintos, o
Coringa sorri com o caos. Exatamente a atmosfera caótica que lhe
causou dor durante sua trajetória. Completamente abalado e
desestabilizado ele não consegue mais lidar com o caos que recebe e
passa a produzi-lo, escolhendo o lado sombrio da moeda. Um
caminho de violência. A direção oposta das escadas, tornando-se o
vilão que conhecemos.
O Náufrago
Meu deus, Náufrago!! Eu AMEI o seu texto, sério! O que você falou sobra a ascensão do palhaço ser descendo as escadas, meu deus. Parabéns!!
ResponderExcluirMuito bom, Naúfrago! Estou lhe aplaudindo de pé! Sensacional!
ResponderExcluirPerfeito!! Eu pensei muito em escrever algo tipo assim, mas não saberia expressar dessa forma sensacional. Parabéns!! <3
ResponderExcluirAdorei a antítese que fez com a ascensão ao descer das escadas, muito bom! Parabéns, Náufrago!
ResponderExcluirOi, Náufrago! Adorei seu texto, acho que conseguiu passar bem a mensagem do quadro! Parabéns!
ResponderExcluirQue texto incrível, Naufrago! Excelente a forma que você abordou o quadro, além de usar uma linguagem clara, o que tornou seu texto bastante fluído. Gosto bastante dos seus textos, parabéns!
ResponderExcluirNossa como vc escreve bem Náufrago! Muito profundo seu texto. Interessante como sua escrita se desenvolve a partir dessa estranheza pela ambiguidade(tb percebi) do nome do quadro com a percepção trazida pela imagem! Parabéns pelo ótimo texto !
ResponderExcluirNáufrago, novamente, um texto perfeito escrito por você. O jeito que descreveu a imagem foi bem detalhada e eu fiquei presa do começo ao final. Você falou da frase e falou da figura do Coringa, o que era proposta. Parabéns! Beijos <3
ResponderExcluirNáufrago, mais um texto impressionante! Nem sei se falo mais das metáforas perfeitamente bem pensadas e colocadas ou da fluidez do texto, são requisitos já esperados por mim. Que expectativas altas você se colocou, mas fique tranquilo, você consegue!
ResponderExcluirBeijos, Estrela!