Diário de bordo, data estelar...data estelar.... Qual é a data mesmo?
Meu objetivo é pousar num lugar chamado memória. Não será uma tarefa tão
simples, já que está envolto na bruma do esquecimento, dificultando a minha
visão. Eu preciso resgatar em algum ponto desse mundo, o que ocorreu num
determinado dia. Está escondido ali. Começo garimpando nas letras
embaralhadas da minha escrita rápida, que no momento pareciam legíveis,
mas agora preciso franzir a testa para entender. Obs.: Lembrar de passar as
anotações a limpo mais tarde. Se minha memória fizer o favor de guardar isso,
é claro.
No monitor, observava a tela em branco, tentando pintar, com clareza, o
quadro daquele dia, mas a pintura era abstrata. A matéria-prima da memória é
a própria vida. Algumas coisas se esvaem e outras ficam guardadas. A
memória, realmente, precisaria ser uma caixa enorme pra caber tanta coisa.
Quem organiza isso? Deve ser a minha consciência mesmo, nunca fui tão bom
em arrumação. Às vezes, fatos corriqueiros da semana retrasada estão
frescos, mas coisas relevantes vão pro fundo da caixa e pode ser uma luta pra
resgatar.
Voltando a exploração espacial, a missão atribuída a mim é encontrar nesse
vasto mundo da memória o que houve na primeira aula da Oficina de Produção
e Leitura. Mas lembrar é como olhar por um vidro embaçado pela chuva.
Lembro o que o professor explicou na aula, mas não exatamente quais os
nomes dos conceitos. Preciso criar atalhos nesse caminho. Recordo-me então
que pesquisei sobre eles. Santa curiosidade! No painel de controle, abro os
históricos do computador e...novo obstáculo. Qual a data mesmo? Vamos
pensar...as aulas iniciaram numa segunda-feira, e foi no dia 01, isso eu lembro.
Então a primeira terça-feira foi no dia 02. Agora sim. Descubro sobre o que
falamos. Os princípios do prazer e da realidade.
A essa altura me surpreendo com o poder que reside na memória, uma coisa
puxa a outra e já recordo da aula, naquele dia. Não sei quantos estavam
presentes, mas lembro que para explicar as teorias o professor usou exemplos,
situações hipotéticas, brincando com alguns colegas da turma. Segundo a
historinha criada, Vitor amava Julia que amava Douglas que amava Kezya no
melhor estilo Drummond. Os atos falhos denunciavam os amores escondidos.
Se não me falha a memória, alguém não sonhava com seu amor, mas sim com
uma cereja que era a fruta favorita dele. Exemplo prático do sentimento
recalcado. Foi uma aula divertida e como acabo de constatar fixou bem os
conceitos na memória.
Enquanto escrevo vou lembrando. Ta aí, concluo então que escrever é ótimo
pra refrescar a memória. Lembrei ainda que Olga Benário estampava a camisa
do professor. Ele falou um pouco sobre ela no fim da aula. E a atividade que
ficou para nós, naquela semana, foi, à luz desses conceitos freudianos,
escrever a primeira crônica. Essa é fácil de lembrar, o tema foi sobre traumas e
os belos textos estão aí pra não deixar esquecer.
Acho que é isso. É tudo que consegui resgatar no fundo da caixa, tudo que
consegui garimpar na superfície desse planeta-memória. Câmbio, desligo.
O Náufrago
Eu amei o texto e essa analogia de memória com planeta. Acredito que a explicação sobre atos falhos tenha sido na segunda aula e a revelação do tema da crônica também. De qualquer maneira, parabéns por escrever bem assim!
ResponderExcluirNáufragooooooo, amei demais seu texto!!!! Adorei a forma que você encontrou de se expressar e por ter criado essa fic tão boa (tinha até painel de controle, meu deus)!!
ResponderExcluirMas mesmo assim, acho que o sistema da espaçonave estava ruim. Hahahah acredito que os relatos sobre Freud e toda a explicação tenham sido na segunda aula, não na primeira.
Mesmo assim, isso não anulava a sua habilidade tão boa de escrever. Parabéns demais!
Oi, Náufrago! Adorei seu texto, muito completo! Amei a forma que escreveu! Lembro das mesmas coisas que você, nós dois também confundimos a data do texto de traumas haha! Apesar da confusão, lembrou de coisas muito importantes, parabéns!
ResponderExcluirNáufrago, foi o melhor texto da semana. Amei a forma que construiu. Parabéns!!!
ResponderExcluirEu não estava nessa aula, mas o tema da primeira crônica foi no segundo encontro, a menos que ele tenha repetido isso.
Náufrago, uau! Achei o texto brilhante, extremamente bem escrito e metáforas muito boas! Parabéns!
ResponderExcluirNáufrago, acho que seu texto teria ficado melhor se tivesse sido um pouco mais enxuto, mas tá bem gostosinho de ler. Só confundiu a história do casal, que foi na segunda semana rsrs.
ResponderExcluirNáufrago, seu texto está perfeito! Como sempre, devo acrescentar. Sempre fico babando nas referências e nas metáforas que você usa. Acho que você confundiu a segunda com a primeira aula em algumas partes, como os outros colegas já apontaram. Parabéns!
ResponderExcluirNáufrago, seus textos são sempre incríveis, bem construídos e interessantíssimos, e esse não foi diferente. Admiro muito sua capacidade de criar metáforas poderosas e aplicá-las tão bem, parabéns <3
ResponderExcluirNaufrago, como sempre, seu texto esta impecável! Referências impressionantes e fluidez de leitura perfeita. Parabéns!
ResponderExcluirBeijos, Estrela!