quinta-feira, 11 de março de 2021

Planeta-memória

Diário de bordo, data estelar...data estelar.... Qual é a data mesmo?

Meu objetivo é pousar num lugar chamado memória. Não será uma tarefa tão

simples, já que está envolto na bruma do esquecimento, dificultando a minha

visão. Eu preciso resgatar em algum ponto desse mundo, o que ocorreu num

determinado dia. Está escondido ali. Começo garimpando nas letras

embaralhadas da minha escrita rápida, que no momento pareciam legíveis,

mas agora preciso franzir a testa para entender. Obs.: Lembrar de passar as

anotações a limpo mais tarde. Se minha memória fizer o favor de guardar isso,

é claro.

No monitor, observava a tela em branco, tentando pintar, com clareza, o

quadro daquele dia, mas a pintura era abstrata. A matéria-prima da memória é

a própria vida. Algumas coisas se esvaem e outras ficam guardadas. A

memória, realmente, precisaria ser uma caixa enorme pra caber tanta coisa.

Quem organiza isso? Deve ser a minha consciência mesmo, nunca fui tão bom

em arrumação. Às vezes, fatos corriqueiros da semana retrasada estão

frescos, mas coisas relevantes vão pro fundo da caixa e pode ser uma luta pra

resgatar.

Voltando a exploração espacial, a missão atribuída a mim é encontrar nesse

vasto mundo da memória o que houve na primeira aula da Oficina de Produção

e Leitura. Mas lembrar é como olhar por um vidro embaçado pela chuva.

Lembro o que o professor explicou na aula, mas não exatamente quais os

nomes dos conceitos. Preciso criar atalhos nesse caminho. Recordo-me então

que pesquisei sobre eles. Santa curiosidade! No painel de controle, abro os

históricos do computador e...novo obstáculo. Qual a data mesmo? Vamos

pensar...as aulas iniciaram numa segunda-feira, e foi no dia 01, isso eu lembro.

Então a primeira terça-feira foi no dia 02. Agora sim. Descubro sobre o que

falamos. Os princípios do prazer e da realidade.

A essa altura me surpreendo com o poder que reside na memória, uma coisa

puxa a outra e já recordo da aula, naquele dia. Não sei quantos estavam

presentes, mas lembro que para explicar as teorias o professor usou exemplos,

situações hipotéticas, brincando com alguns colegas da turma. Segundo a

historinha criada, Vitor amava Julia que amava Douglas que amava Kezya no

melhor estilo Drummond. Os atos falhos denunciavam os amores escondidos.

Se não me falha a memória, alguém não sonhava com seu amor, mas sim com

uma cereja que era a fruta favorita dele. Exemplo prático do sentimento

recalcado. Foi uma aula divertida e como acabo de constatar fixou bem os

conceitos na memória.

Enquanto escrevo vou lembrando. Ta aí, concluo então que escrever é ótimo

pra refrescar a memória. Lembrei ainda que Olga Benário estampava a camisa

do professor. Ele falou um pouco sobre ela no fim da aula. E a atividade que

ficou para nós, naquela semana, foi, à luz desses conceitos freudianos,

escrever a primeira crônica. Essa é fácil de lembrar, o tema foi sobre traumas e

os belos textos estão aí pra não deixar esquecer.

Acho que é isso. É tudo que consegui resgatar no fundo da caixa, tudo que

consegui garimpar na superfície desse planeta-memória. Câmbio, desligo.

O Náufrago

9 comentários:

  1. Eu amei o texto e essa analogia de memória com planeta. Acredito que a explicação sobre atos falhos tenha sido na segunda aula e a revelação do tema da crônica também. De qualquer maneira, parabéns por escrever bem assim!

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  2. Náufragooooooo, amei demais seu texto!!!! Adorei a forma que você encontrou de se expressar e por ter criado essa fic tão boa (tinha até painel de controle, meu deus)!!
    Mas mesmo assim, acho que o sistema da espaçonave estava ruim. Hahahah acredito que os relatos sobre Freud e toda a explicação tenham sido na segunda aula, não na primeira.
    Mesmo assim, isso não anulava a sua habilidade tão boa de escrever. Parabéns demais!

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  3. Oi, Náufrago! Adorei seu texto, muito completo! Amei a forma que escreveu! Lembro das mesmas coisas que você, nós dois também confundimos a data do texto de traumas haha! Apesar da confusão, lembrou de coisas muito importantes, parabéns!

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  4. Náufrago, foi o melhor texto da semana. Amei a forma que construiu. Parabéns!!!
    Eu não estava nessa aula, mas o tema da primeira crônica foi no segundo encontro, a menos que ele tenha repetido isso.

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  5. Náufrago, uau! Achei o texto brilhante, extremamente bem escrito e metáforas muito boas! Parabéns!

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  6. Náufrago, acho que seu texto teria ficado melhor se tivesse sido um pouco mais enxuto, mas tá bem gostosinho de ler. Só confundiu a história do casal, que foi na segunda semana rsrs.

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  7. Náufrago, seu texto está perfeito! Como sempre, devo acrescentar. Sempre fico babando nas referências e nas metáforas que você usa. Acho que você confundiu a segunda com a primeira aula em algumas partes, como os outros colegas já apontaram. Parabéns!

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  8. Náufrago, seus textos são sempre incríveis, bem construídos e interessantíssimos, e esse não foi diferente. Admiro muito sua capacidade de criar metáforas poderosas e aplicá-las tão bem, parabéns <3

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  9. Naufrago, como sempre, seu texto esta impecável! Referências impressionantes e fluidez de leitura perfeita. Parabéns!

    Beijos, Estrela!

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