sexta-feira, 20 de agosto de 2021

28 de outubro de 2018.

Quando soube, pela TV, gritei de raiva enquanto a minha vizinha, que é 5 anos mais velha que eu, gritava de felicidade. No mês anterior, compartilhava descontraidamente com o meu melhor amigo: "Meu Deus, se o Bolsonaro ganhar, a gente nunca mais vai poder sair de casa! Ele odeia pobre, preto e gay".

O medo da onda de ódio que estava por vir era tão intenso como uma chuva forte. Tinha esperanças que ele perdesse, ainda acreditava em um Brasil bom. As manifestações na internet me provaram o contrário e o dia 28 de outubro de 2018 também. 

De fato, o medo que eu demonstrava em forma de brincadeira para o meu melhor amigo se tornou real. Nunca mais saí de casa. E não porque eu sou preta, pobre e não porque ele é LGBT. É porque o Bolsonaro tá matando. 

No dia 15 de novembro de 2018, meu tio me chamou em um canto e disse que eu era muito inteligente pra ser petista e que o Bolsonaro iria salvar o Brasil. Sim, tio. Eu sou muito inteligente. Você que é ingênuo.

E em uma breve conversa com a minha vizinha no portão, nesse ano, ela demonstrou repúdio e horror ao presidente que elegeu. A mesma que jorrava felicidade no dia. Olhei para ela e concordei. Talvez até tenha esquecido o quão ridículo foi quase soltar fogos, mas eu me lembrava. 

E no ano passado, mamãe estava conversando com titia, quando a mesma falou: "Ah, se pegar covid é só tomar o remédio do Bolsonaro que passa!". No mesmo ano, titia me disse que eu deveria me informar mais, porque segundo a pesquisa de Twitter dela, a cloroquina fazia efeito. 

E em um domingo desse ano, estava no Instagram e vi uma amiga na faixa dos 20 compartilhando que estava em uma manifestação a favor do voto impresso. Ela estava sem máscara e… sorrindo? Engraçado, eu pensei que ser a favor desse presidente e as ideias mirabolantes dele  era coisa de velho. Minha amiga estudou em uma escola cara, tem bons pais e é preta, assim como eu. Senti pesar ao ver aquela foto, acreditava em uma geração melhor, que era a nossa.

E em uma terça, assim que acordei, vi tanques na rua e no mesmo dia, vi a votação para decidir se o Brasil voltaria ao passado. Vivo em constante dúvida se já não estamos lá. Absurdo a cada dia provam que não evoluímos, alguns apenas tiraram as máscaras para ser de fato quem sempre quiseram. 

Quando se tem um líder que torce para o ódio e para o passado, esse mesmo encoraja pessoas a agirem igual. E quem vai contra a maré? É resistente e corajoso. 

Tanques na rua, votos em papel, remédios sem eficácia, afirmações sem provas, ódio gratuito… Estamos presos ao passado. 

Parece clichê, mas, enquanto tiver gente batendo palma pra palhaço cantar, voto impresso e tanques na rua sempre irão existir. 

O Brasil é a quinta série onde um professor de história queria explicar a matéria, mas não deixaram. Os alunos preferiram aplaudir o colega bagunceiro. 


Noite Estrelada

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