quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Cara Sinceron@

Oi, Sinceron@! Não te culpo pela imagem que você criou de mim, afinal, ela

transmite exatamente o que eu quero passar. No entanto, dada a oportunidade de ser

sincera (rs), vou me esforçar para ser mais transparente.

Você disse no seu texto que eu não tinha medo. Quem me dera! Tenho e muito.

Só que, uma coisa que eu tive que aprender na marra, é que o seu silêncio não vai te

proteger. Então a gente precisa ir com medo mesmo.

Quando eu escrevo essas crônicas sobre assuntos vulneráveis, sei que a

impressão que passa é a de que eu sou uma pessoa vulnerável, quando eu estou mais

apática do que nunca. Você falou sobre a dor que eu devo ter sentido ao relatar certas

coisas e eu estou aqui para te dizer que não foi quase nada. Acredito que quando a gente

precisa contar a mesma história diversas vezes, ela vai perdendo um pouco do impacto.

A verdade é que por muito tempo eu me escondi no armário (não no significado

usual). Me considero feminista desde pirralha, mas, no início, expressava esse

feminismo só quando era conveniente para mim. Por muito tempo fui o tipo de pessoa

que reproduzia lindos discursos em coletivos, mas que se calava quando era realmente

necessário que eu usasse minha voz. Com terapia, comecei a pensar que, talvez, essas

palavras não ditas eram o motivo pelo qual eu não conseguia dormir a noite, então,

comecei a falar. Agora eu falo e continuo sem conseguir dormir.

Assédio sexual, feminismo, pedofilia, são assuntos que eu odeio – e ufa! Como é

bom botar isso para fora. Odeio falar sobre esses temas. Odeio ainda mais o fato de que

eu preciso falar, se não por mim, pelas outras mulheres. E não tem nada de força nisso,

é apenas uma obrigação, como beber água (que eu também odeio).

O que me leva ao meu último ponto - juro. Tenho o privilégio de ter auxílio

psicológico e psiquiátrico, sei disso. Mas outra coisa que eu tive que aprender na marra

é que todo mundo quer te ajudar, até a hora de você precisar que as pessoas deem a cara

a tapa por você. Das mais de 50 pessoas que disseram estar do meu lado quando meu

professor me assediou, três foram depor na delegacia quando eu precisei. Uma foi

comigo até a direção. E, por elas, eu serei eternamente grata: elas me ensinaram o que

realmente é ajudar. Então, não quero ser babaca, mas, fica o recado geral, que se suas

palavras de apoio são apenas palavras, então você não está ajudando ninguém.


Acredito que esse foi o texto mais longo que escrevi e poderia continuar. Uma

coisa que eu tenho é consciência de quem eu sou e do que pareço ser. Consciente de que

falo para cacete quando tenho algo a dizer, vou me limitar e parar por aqui. Talvez

algumas coisas não precisem ser ditas.

Saramaga.

Um comentário:

  1. Olá Saramaga, desculpe a enorme demora para te responder, nem sei se ainda irá ler isso, mas vamos lá. Obrigada pelo texto gostei muito da sua analise, já temos uma coisa em comum, também não gosto de beber água kkkk e fico extremamente feliz que os textos estejam te ajudando a colocar tudo para fora, percebo que está cansada de repetir a mesma história, então reafirmo que um dia isso não seja necessário, mas por agora acredito que seja essencial. Obrigada pela troca, continue escrevendo lindamente <3

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