quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Amizade platônica

Como é possível sentir-me tão próxima de alguém que nem conheço? Tão íntima? Tão amiga? Penso que poderíamos ser grandes parceiros. Cúmplices. Dividir as angústias e vibrar até nas mínimas conquistas. Salsicha e Scooby-doo. Batman e Robin. Calvin e Haroldo. Bob e Patrick. Snoopy e Charlie Brown. Dom Quixote e Sancho Pança. Bic e Asa. 


Sinto, seguramente, uma admiração mútua que se faz única nos comentários trocados. Nos recursos imagéticos que usamos. Nas máscaras que vestimos. Nos enigmas que assinamos. É genuíno e descomplicado. É secreto, mas também escancarado. É simplista, como uma longa amizade de vida inteira; e também surpreendente e intrigante, como conhecer alguém do zero. 


Nas palavras, deposito parte do que sou. No personagem, parte do que acho que quero ser. De crônica em crônica, todos somos colocados à prova. Num processo, por vezes, doloroso, invasivo e nada discreto - escrever para o blog tornou-se o desnudar de nossas almas. Os textos: pura investigação. Ler e decifrar. Levantar hipóteses, apostar em teorias, criar vínculos, constituir afetos e desafetos. Vulneráveis. Malvados. Generosos. Assustados. Ou assustadores. Embarcamos tudo misturado num só pseudônimo. 


Quando disse que nem o conhecia, menti. Sei de medos, sonhos e talentos que, talvez, foram - e serão - revelados apenas neste espaço. Do lado de cá, abdicamos da privacidade, deixamos escapar confissões temerosas, revelamos mistérios confidenciais, e, desse jeito curioso, transbordamos. Coragem. Euforia. Aplauso. E alívio.  Dar voz ao silêncio e esquecer que nos observam. 


Adianto um pedido de desculpas - ao Asa e todos os outros - caso não sejamos tão extraordinários quanto parece. Descobrir os respectivos rostos pode aniquilar o encanto. O que me conforta é que a verdadeira magia de nossas personas é saber que um dia morrerão. Aliás, morrerão em nós. Certamente viverão bem aqui. Eternizadas. O período terá seu finalmente, e, com ele, a Bic Cristal também. Mas saiba, Asa Monstro, que para a minha caneta de tampa mordida, você sempre será o inusitado melhor amigo platônico.



Bic Cristal


2 comentários:

  1. Oi, Bic. Para começar, por algum motivo, olhando os títulos dos textos dessa semana eu simplesmente soube que esse era o seu. Eu divido os mesmos pensamentos que você no primeiro parágrafo - é até meio assustador - que é possível se sentir assim com alguém que eu sequer sei a face. Bem, acho que essa é a graça, de não saber quem somos por trás do pseudônimo mas saber que uma hora vamos saber. É exatamente como você disse, "quando disse que nem o conhecia, menti", talvez você já me conheça melhor do que muitos amigos meus. Nessa amizade simples, mas complexa, que vai acabar e ser eternizada podemos encontrar uma profunda conexão, não? Abraços do seu melhor amigo platônico,

    Asa Monstro.

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    1. É sempre um prazer, Asa! Um super abraço e muito obrigada.

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