quinta-feira, 30 de maio de 2019

A alma sente

Triiim!!! O despertador anuncia que está na hora do dia começar. Os olhos, até então fechados, se abrem, mas o corpo ainda é incapaz de reagir. Talvez para ele, não seja o momento de mais um dia de luta se iniciar. Triiim!!! Agora o corpo precisa responder para, pelo menos, silenciar aquele que te acorda todos as manhãs.
Os olhos, recentemente abertos, já se voltam para o celular e, rapidamente, percebem que não é mais uma quinta-feira qualquer. O aparelho marca 30 de maio. De fato, mais um dia de luta, mas uma luta diferente do que aqueles olhos costumavam presenciar.
A quinta-feira é de manifestação contra os cortes de verbas das universidades, ou melhor, contingenciamento, como nosso digníssimo governo prefere chamar. A dona do despertador, ao perceber que rotina do dia seria diferente, se dá conta de que não precisava dele para acordá-la pela manhã, mas esqueceu de desligá-lo na noite anterior. Agora, era tarde demais, ela já estava agitada para lutar, mais uma vez, por seus direitos. Começa a preparar tudo que levaria e conta as horas, ansiosamente, para o momento chegar.
A jovem veste a blusa do curso que tanto se orgulha, ainda que não possa dizer que seus pais sintam o mesmo. O relógio, enfim, anuncia que é hora de partir. O trajeto é longo e, durante ele, suas pernas não param de balançar por um segundo sequer, revelando toda a ansiedade que sentia.
Quando, finalmente, chega à Candelária, seus olhos se encantam com o aglomerado composto por milhares de universitários, pais e professores que lutam pela educação. Com os passar dos minutos, aquele lugar se enche, não só de pessoas, mas de esperança e revolta.
Os olhos que pela manhã se voltavam para o celular, agora, apreciam as apresentações de dança que tomam conta daquele lugar. Além disso, observam as letras garrafais que se fazem presentes em milhares de faixas e cartazes, compondo palavras e, por sua vez, frases que expressam a insatisfação do povo. Seus ouvidos escutam as músicas cantadas, em alta voz, pelos manifestantes, enquanto seus lábios, magicamente, acompanham.
As pernas se encontram cansadas, a voz falha, mas o coração bate forte no ritmo de toda aquela emoção. Infelizmente, o momento chega ao fim e chega a hora de partir. Quando os pés doloridos, finalmente, encostam no chão de casa, os pais da jovem a observam com olhar de reprovação. Mas nada disso importa naquele instante. Ela toma banho, escova os dentes e o corpo cansado se joga na cama. Agora, chegou o momento do dia acabar e quem anuncia isso é sua alma, sentindo que cumpriu uma missão e pode, enfim, ter um descanso, até que o despertador toque novamente para avisá-la que o ciclo precisa recomeçar.
Felícia Rockfeller

Um comentário:

  1. Oi, Felícia!
    Primeiro: Eu ri MUITO do "Triiiim", porque li em voz alta e também, obviamente, poruqe sou idiota.
    Uma coisa que eu percebi e que me deixou confusa, é que lá no começo você usou "ele" e depois a protagonista vira uma mulher. Provavelmente só erro de digitação, mas acabou tendo um impacto grande, então tenho que comentar.
    " Agora o corpo precisa responder para, pelo menos, silenciar aquele que te acorda todos as manhãs." ---> Aqui o "te" não seria o pronome certo pra ser usado, mas sim "o" ou "a" (dependendo aí do personagem ser homem ou mulher, o que não ficou claro pra mim)]
    " e conta as horas, ansiosamente, para o momento chegar. " ---> Acho que aqui não precisava dessas vírgulas não

    Um beijo <3

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