Aquele era o seu lugar. Depois virou meu também. De muitos. Palco onde diversos atores e atrizes protagonizam sua peça do dia a dia. A grama pontiaguda e a infinitude de insetos fazem-se convidativos àquela variedade de autores. Fuga do mar de concreto, da burocracia, da obrigatoriedade. Recanto - que de pequeno não tem nada. Um esconderijo a céu aberto que todos querem chamar de seu.
Talvez seja o calor do sol de fim de tarde que envolva o coração e transporta-nos para uma outra atmosfera onde se fala o que sente, quando em grupo. Mas tem gente que vem só e se conforta com a noção de continuidade ao olhar o caminho cintilante que o reflexo do sol percorre na água até a linha do horizonte. Essa água tremeluzente, dançando no ritmo dos ventos, convidando a adentrá-la. Tão perto e tão distante ao mesmo tempo, mergulhar de cabeça é fatal.
Nesse momento, você me olha. Igualmente convidativa, igualmente imprevisível. A luz dourada realça as mechas mais claras do seu cabelo e os detalhes do seu rosto. Seus olhos sempre tiveram esse desenho? De uma hora pra outra, tornam-se tão brilhantes quanto as luzes da ponte Rio-Niterói brilhando ao fundo.
Me pego imaginando se o pôr do sol nos olhasse, o que ele pensaria. Se lesse nas entrelinhas das nossas expressões e encontrasse o não-dito. Será que nos deduraria? Poderia ser nosso cúmplice. O produtor de todos esses espetáculos. Afinal, quem somos nós sentados nesse tapete verde se não meros figurantes, fazendo parte desse cenário que é a própria vida?
Toninho Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário