Desde muda, acho estranho isso de ter a certeza do meu crescimento sem saber dos motivos, das origens. Vi que as raízes escondidas também deixam marcas e é neles que muito se tropeça. Mesmo broto ou tronco largo, é preciso tomar cuidado com elas.
O garfo tilintou quando percebi que meu pai me encarava. Olhos de outono, metade folha caída e irritação. Você é muito radical, ele disse, precisa maneirar. Ninguém quer ser essa pessoa. Odeio conversas acaloradas, violência realmente não é a minha praia. Minha mãe, expressão de galhos secos, concorda com ele e eu me calo. Calo, mas não deixo de me perguntar o que é exatamente a radicalidade que tanto se repreende. É o exagero da voz, a ousadia das ideias. Nunca fui de gritar ao contrário do que esperam de mim. Meu pai queria um jogador de futebol, minha mãe queria um pai de família. Eu cresci dançarino, odiando crianças e de muitos amores. Fruto aleatório do cruzamento mais tradicional. Pensando bem, sempre fui meio radical mesmo. Fascinado em me ater às raízes, entender o sistema que alimenta os medos, regras e a indignação do meu pai de não ser igual a ele. Plantaram raiz bruta, violenta, viril e predadora. Podei galhos mortos, fungos podres e me fiz atento Flombayant. Me orgulho a cada primavera.
Dominique Casanorte
Gostei de como você construiu a narrativa, a metáfora da árvore caiu bem demais!
ResponderExcluirOi, Dominique! AMEI a crônica, de verdade! A metáfora foi MARAVILHOSA, tá de parabéns!
ResponderExcluirA única crítica é que eu não consegui perceber o tema da semana no seu texto kkk
Um beijo <3