quinta-feira, 9 de maio de 2019

Apesar de você

 Chico Buarque lançou a música, um dos símbolos da ditadura militar, em 1970. No mesmo ano nasceu a mãe de João. Filha de uma empregada doméstica e de um caminhoneiro, Dona Márcia teve uma vida de muitas privações crescendo no subúrbio do Rio. Ela não teve a oportunidade de estudar, mas fez de tudo para que seu menino conseguisse. 

"Você vai ter que ver/ A manhã renascer/ E esbanjar poesia"

 João não escolheu medicina (curso idealizado por sua mãe), escolheu filosofia. Dona Márcia só queria mudar a vida do filho, mas ele queria mudar as pessoas. O menino, nascido em 98, queria fazer as pessoas pensarem, acreditava piamente que essa era a única maneira de mudar o país. Nunca se conformou com o fato de sua mãe não ter participado dos protestos pelas Diretas Já, nem quando ela não o deixou ir nas manifestações de 2013. Dona Márcia pedia segurança ao filho, entretanto o jovem só via segurança em uma sociedade pensante e livre, em uma sociedade que entendesse o significado de estar seguro.

"Ainda pago pra ver/ O jardim florescer/ Qual você não queria"

 João não votou naquele-que-não-deve-ser-nomeado, mesmo assim sofre as consequências causadas por aqueles em que nele votaram – pessoas as quais Dona Márcia não deixa João chamar de idiotas. Em uma semana seu curso foi praticamente excluído do cenário educacional, sua universidade foi atacada pessoalmente e seu povo chamado de balbúrdia. O menino diz que já estamos vivendo em uma ditadura, sua mãe acha exagero. Em resposta, João usa as palavras de Chico Buarque, enquanto for "Hoje você é quem manda/ Falou, tá falado/ Não tem discussão, não", a ditadura é evidente.

"Como vai abafar/ Nosso coro a cantar/ Na sua frente"



 Mas João vai para as ruas, João vai protestar. E, desta vez, nada nem ninguém o impedirá de falar sua verdade, inclusive Dona Márcia. João estudou a ditadura e hoje vive nela, comprovando a máxima de Edmund Burke: “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la". Mas, além de tudo, João sabe que, apesar dele, amanhã há de ser outro dia.
Jussara Sri Lanka

2 comentários:

  1. Oi, Jussara!
    Super legal você ter usado o Chico Boarque no texto!
    Só tennho uma coisinha que queria criticar:
    " Mas, além de tudo, João sabe que, apesar dele, amanhã há de ser outro dia." ---> Nesse trecho aqui, a parte do "apesar dele" se refere àquele-que-não-deve-ser-nomeado, certo? Pelo menos foi o que eu entendi. Se essa foi a intenção, acabou ficando meio estranho e parecendo que é pesar de João.
    Se realmente você quis se referir ao protagonista e eu tô errada, confesso que não entendi kkkk
    Ah, também acho que dava pra usar um pouco menos "João". Você usou "jovem" e "menos", mas dava pra não repetir tanto o nome dele fazendo o uso de pronomes também.
    Só isso mesmo.
    Gostei bastante desse paralelo com a ditadura.
    Beijos <3

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  2. Oi, Leena. Muito obrigada pelo seu comentário.

    O "apesar dele" realmente se refere àquele-que-não-deve-ser-nomeado. Tive problemas com meu computador e tive que escrever pelo celular. Minha intenção original era colocar o "dele" em itálico, mas não consegui fazer isso pelo celular. Acho que com o itálico a referência seria mais clara. De qualquer forma, eu devia ter pensado em uma forma de não ter deixado ambíguo. Quando escrevi não percebi a ambiguidade, mas com o seu comentário vejo que a ambiguidade é clara.

    Sobre a repetição de "João": eu achei que estava bem dosado. Quando a palavra se repete mais (que é no último parágrafo), a repetição foi intencional. Mas, como meu leitor ficou incomodado, acho que seria bom eu rever.

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