Com uma passada de olho veloz talvez você não repare, mas ele sempre esteve ali. Indo e voltando, de forma quase que pendular. Esse barco tem uma aparência humilde e antiquada ao compararmos com outros ao seu redor, porém, dentro de sua pequena cabine, possui uma história interessante que é guardada a sete chaves pelo senhor Luisinho, o nosso protagonista.
Nascido na cidade do Rio de Janeiro, Luis Carlos cresceu numa casa humilde com suas quatro irmãs. Desde pequeno, o que ele mais gostava de fazer era nadar. Morador do Cantagalo, Luisinho, quando atingiu a adolescência, aproveitava a proximidade da sua casa para ir todos os dias à praia de Copacabana e lá passava o resto da tarde dentro da água. Seu lugar favorito ou, como gostava de chamar, seu paraíso. No final das tardes, a programação era sempre a mesma, sentar na areia e imaginar a sua vida no futuro. O que ele escondia de todos era o seu maior sonho: morar nas águas, viver em alto mar. Luisinho trabalharia o suficiente para comprar um barco, o deixaria do seu jeito, e sairia por aí sem rumo, vivendo apenas da pesca e, assim, todos os seus dias seriam o paraíso.
Aos 17 anos arrumou o seu primeiro emprego. Por mais que sua família não tivesse uma boa condição financeira, Luis Carlos nunca precisou trabalhar, diferente de seus amigos da rua e da escola. Sua mãe, dona Vitória, nunca permitiu que nenhum filho trabalhasse, a prioridade era sempre o estudo. Luisinho começou trabalhando como ajudante numa feira de rua, fazia de tudo naquela barraca que vendia peixe. Aquele trabalho durou anos, o menino sonhador já tinha largado o posto de ajudante, aprendeu muitas coisas no serviço e já era especialista em peixes.
Numa tarde de domingo, Luis visitou a Baía de Guanabara, um porto gigante que havia alí. Era observador, olhava com calma os barcos que estavam parados naquele local. Até que viu algo diferente, um barco colorido, sua aparência dava um sensação de felicidade e aquilo combinava com o menino. Para sua surpresa, estava à venda. Após uma longa conversa com o dono da embarcação, Luisinho conseguiu negociar o valor para um preço que era próximo do que já estava juntando, seriam mais uns quatro meses de trabalho e conseguiria pagar.
Na semana seguinte, Luis estava conversando com seu chefe e ouviu uma voz doce vindo da frente de sua barraca:
– Boa tarde – disse a voz – O senhor poderia me dar 2 quilos de robalo?
Aquele som entrou como uma bela canção de Caetano Veloso, num por do sol de Copacabana, nos ouvidos dele e quando virou, foi paixão à primeira vista. Ele perguntou seu nome e após a primeira conversa, outras vieram cada vez com mais facilidade. Maura também se apaixonou por Luis, era algo que jamais havia acontecido com eles.
Após duas semanas de saídas e conversas, ele a pediu em namoro e a resposta já era esperada: Sim.
O primeiro mês de namoro. O segundo, terceiro e quase o quarto. Luis não tinha contado pra Maura seu sonho, mas era preciso e ele decidiu levar ela para o porto, iria mostrar o barco para sua amada. Aquela embarcação era a cara dele, então se ela gosta dele, iria gostar da idéia... Não gostou.
Maura o abandonou decepcionada, moradora de Copacabana também, queria viver uma vida tranquila e ‘’normal’’ na sua visão. Buscava uma casa com quintal grande para criar seus filhos e já tinha encontrado o seu marido, Luis era o homem certo. Era...
Luisinho tentou ligar, se comunicar, enviar cartas e ir na casa da amada, mas fora completamente rejeitado. Então, não restou outra opção ao menino, juntar as suas economias e partir em busca do seu sonho.
Até que veio a notícia ruim, outra pessoa tentou comprar o barco naquela semana, oferecera um pouco a mais que Luis estava disposto a pagar. Porém, ele não desistiu, contou seu sonho ao dono da embarcação e o velho deu seu veredito:
– Você terá até amanhã para trazer o dinheiro. – e completou – Se não, venderei para o outro comprador.
Aquilo foi um baque no peito de Luis. Um soco bem dado em seu rosto. Não teria como pagar, ele sabia bem disso. O menino sentou na praia de Copacabana, bem onde ele ficava quando imaginava seu futuro e chorou. Era o pior dia de sua vida.
Caminhando pela orla, Maura estava completamente arrependida da sua atitude e estava pensando em conversar com o seu amado e se desculpar. Até que reconheceu Luis de longe e resolveu se aproximar, ouviu o menino falando sozinho, se lamentando por não conseguir comprar o barco. Ela teve uma ideia, era de família rica, poderia comprar para ele a embarcação sem maiores problemas. Foi o que fez. A menina foi até onde Luis tinha a levado e conversou com o dono que concordou, ela iria cobrir a proposta do outro comprador. Infelizmente, ela não queria partir com ele, não foi o que planejara para sua vida.
Maura deixou uma carta na porta da casa de Luis contando o que havia feito e desapareceu, foi viver uma nova vida em outro estado. Não disse para onde ia, mas, para Luisinho, ela não foi. Sua amada permaneceu na sua cabeça e no casco do seu barco. Para onde Luis ia, levava o nome dela com ele.
Quem vê a Baía de Guanabara de longe, com certeza não consegue perceber aquele barco. Com aquelas cores vibrantes. Com aquele nome, quase que apagado, escrito de tinta branca. Maura.
Larry Bird
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