quinta-feira, 30 de maio de 2019

Doutor, eu não me engano

[]Tentei começar esse texto de várias maneiras: criando personagens, usando a "balbúrdia" (embora eu ache um termo chato) como base... um monte de coisa. Mas nada ficava bom a ponto de descrever o significado que nós, na nossa luta, temos dado à rua. Cada um à sua maneira, à sua visão. Eu na minha, tu na tua e todos nós nas nossas várias. De repente, o caminho da Praça XV até a Candelária já não é mais o mesmo. As ruas do centro da cidade tomaram pra si o dom da liberdade e da força. O mês de maio, desde o seu primeiro dia, foi berço de revolução. Não é à toa que estamos no trigésimo e, adivinha? Teve ressignificação rolando solta nos tantos cantos do Brasil.

[]E como teve. Os gritos abafados, presos nas gargantas, agora, ecoam livremente nas nossas cabeças. E não é que é verdade, menina? Tem dinheiro pra milícia, mas não tem pra educação. Não tem como negar. Tá aí pra todo mundo ver. A balbúrdia é real. Um monte de gente falando ao mesmo tempo. Um monte de vozes se reverberando pelos prédios altos da Presidente Vargas. UM MONTE. Tem coisa mais satisfatória do que cantar uma música e alguém te acompanhar? Não tem. QUEM TIROU DA EDUCAÇÃO... Continua aí na tua mente que, aos poucos, o que eu tô sentindo chega aí. Se é que já não chegou.

[]Uma coisa é fato: depois de nos tirarem tanta coisa, levaram embora nosso medo também. O Trinta de Maio prova isso. Pois não há PM no mundo que olhe dentro dos meus olhos, que me aponte uma arma, que me dê um banho de gás e me tire a coragem. É bom ficarem espertos com a gente. Se liguem, uma Bastilha não cai sozinha. Já tá na hora de colocarem a mão na consciência e decidirem se vão defender um Estado que não os defende ou fazer o seu trabalho que é proteger aqueles que lutam pela sua proteção, saúde, educação e liberdade. Eu, de coração, espero que eles saibam quais cabeças vão rolar, digo, quais vidas serão postas em risco antes que a do Capeta-mor seja.

[]Quase já não é mais trinta de maio. Os significados vão se assentando na minha cabeça. Pouco a pouco, ressignifico tudo que já disse. Porque ainda falta muito. Tem muito sentido pra ser posto à prova e muito chão até que a próxima face da Rua se mostre. E nós estaremos aqui. Lá também. Em cada cantinho que aqueles fascistas simpatizantes de milicianos olharem, estaremos. E, como bem disse Talíria, eles podem temer. E é bom que temam.

Na esperança de que você signifique comigo no 14 junho, 
Heloísa Dandara Pires

3 comentários:

  1. MAS NÃO PODE DIVULGAR A GREVE GERAL DE 14 DE JUNHO ÀS 15H NA CANDELÁRIA, HELOÍSA! É FEIO, HELOÍSA!

    Tô curiosa sobre como esse [] foi parar no início dos parágrafos kkk

    Seu texto foi um dos meus favoritos desse tema! "E não é que é verdade, menina?" De longe meu trecho favorito kkk Também amei o terceiro parágrafo quando você faz a pistola e fala umas boas verdades!
    Um beijo <3

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  2. "Capeta-mor" foi sensacional. Gostei tanto do texto que acho que não tenho nenhuma crítica construtiva, e o professor que sangue e não a gente puxando saco um do outro e se eu continuar vai ser só elogios kkkkk
    Coisa obvia é que o inicio dos paragrafos estão com colchetes, mas deve ter sido problema na formatação mesmo
    Beijos!!

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  3. Indignada que só vi esses comentários agora :( Obrigada, meninas <3 (a parada dos colchetes foi erro de comunicação entre mim e Matheus)

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