O silêncio não é solução

 Falar de política? Ah, isso é algo que eu definitivamente detesto. Para minha família, minhas opiniões políticas são reflexo de ignorância e, principalmente, doutrinação dos meus professores esquerdistas. É difícil não ser levada a sério por pobres de direita, que se acham coerentes, e te acusam de alienação. Evitar confusão era tudo o que eu queria e, por isso, o silêncio se tornou uma solução. 

 Eu me segurei muito para ficar quieta. Tentei acreditar no futuro do país. Mas os problemas que estamos enfrentando vão muito além do âmbito político. O conservadorismo e a ignorância dominam a nação. A empatia se tornou rara e seletiva. A educação já não é nem mais levada em consideração. 

 Me pergunto se a sociedade sempre foi ou se tornou assim. Porém, no fundo, acho que sei a resposta. Acredito que as pessoas já não tem mais medo de demonstrar seus preconceitos. A falta de caráter do ser humano é o que mais tem me assutado. 

 Sempre defendi que a educação era a solução para grande parte dos problemas do país. Eu queria tanto que as pessoas percebessem isso e a valorizassem devidamente. Meu desejo parece tão distante. Matérias importantes viraram sinônimo de doutrinação. E universitários são vistos como baderneiros, quando, na verdade, são o futuro da nação.

 Paulo Freire estava tão certo quando disse que é ingênuo esperar que aqueles que dominam proporcionem uma educação que faça os dominados perceberem as injustiças sociais. Ele resume perfeitamente o que estamos vivendo. Por isso, já não quero mais permitir que pessoas alienadas e retrógradas me induzam ao silêncio. Pra mim, isso já não é mais uma opção. 

Felícia Rockfeller