quinta-feira, 23 de maio de 2019

Deixa ir

Quando penso em Ponte Rio-Niterói (vou usar esse nome porque me recuso a pronunciar o outro), só consigo imaginar em quantas idas e vindas aconteceram ao longo dela. Quantos sonhos se iniciaram e tiveram fim naqueles inacabáveis 13,29 quilômetros? Quantas conversas sérias os engarrafamentos monstruosos das seis da tarde já presenciaram? E isso tudo porque alguém precisava partir. 
Quando penso em partir, sei que, em toda partida, deixamos parte de nós para trás. Você, que está lendo, não é o mesmo desde que deixou o colégio. Eu, que estou escrevendo, não sou a mesma desde que deixei a casa dos meus pais. E tudo bem não ser. Tudo bem ser também. Ser novo, a melhor versão de si que será substituída por outra mais incrível na sua próxima partida. Porque partir também significa chegar. 
Quando penso em chegar, tenho pressa. Porque isso significa pegar, ainda quente, o bolo do lanche da tarde. Corro o máximo que posso porque as chegadas estão ficando cada vez mais raras e apertadas. Já não consigo chegar pro café da manhã. Almoço, então, nem se fala. Mas o café da tarde... Não há maior satisfação do que mandar mensagem pra minha vó, dizendo que acabei de pegar a ponte e que estou chegando. 
Pensando bem, entre partidas e chegadas, a tal da Ponte Rio-Niterói está presente. Nem sempre indo, nem sempre voltado. Mas está. Me faz sentir aperto no coração na segunda, mas o alivia completamente na sexta, com o seu cheiro incomum vindo Baía de Guanabara. Ela está lá. Eu parto, eu chego. Você também. Ela vai estar sempre lá pra nos lembrar que, um dia, a gente volta.

Buscando coragem para a próxima partida,
Heloísa Dandara

Um comentário:

  1. Oi, Heloísa!
    Achei incrível a reflexão da sua crônica, viu? Tô até com os olhos cheios de lágrimas.
    Beijos <3

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