quinta-feira, 30 de maio de 2019

Tá cansado? Não descanse!

Na escola, geralmente somos ensinados a pensar de forma lógica. Mas tem coisa que é contraditoria mesmo. Tem coisa que não faz sentido nem se você olhar de ponta-cabeça, considerar um universo paralelo, inverter os padrões morais...Tem coisa que realmente não dá pra engolir. O sucateamento da educação pública é uma dessas coisas. Não dá pra engolir...mas às vezes a gente aprende a conviver.

A verdade é que o Brasil já lida com uma educação meio merda há mais tempo do que eu consigo contar - e nem é porque sou de humanas. A gente tenta empurrar com a barriga, ir levando...Mas tem hora que a coisa passa dos limites. Há quem diga que o brasileiro não conhece essa tal palavra, "limites". Muitas vezes é verdade, mas agora vamos deixar essa história só pros memes. A gente tem um limite sim, e já chegou nele.

Não dá mais pra aguentar ver a coisa mais importante de uma sociedade ser deixada de lado. Não dá mais pra ver escolas e universidades funcionando precariamente e comemorar porque pelo menos elas ainda estão abertas. É todo dia um relato diferente: a escola do filho do vizinho sem merenda, todos os banheiros de um bloco da faculdade sem papel higiênico, o professor do colega da república que chorou porque queria dar aquela aula prática foda, mas não tinha material no laboratório...Chega uma hora que cansa, né?

O cansaço já chegou no ponto de saturação. Ninguém aguenta mais. Professores, pais, alunos...Quem é diretamente afetado, não aguenta mais lidar com a incerteza sobre o futuro. Quem não é? Não aguenta mais ver o amiguinho ou o famigerado primo que passou na federal reclamando. A nossa turma? A gente tá é tão cansado dessa porra que nem aguenta mais ler e escrever sobre esse assunto! Brincadeiras à parte, a exaustão é real. Mas, como eu disse lá no começo, tem coisa que é contraditória mesmo. E se nos atacaram com uma coisa que não faz sentido nenhum, vamos revidar com uma contradição também.

É o nosso cansaço que nos faz não descansar. É o acúmulo de indignações que faz a juventude gritar cada vez mais alto e levar a aula pra rua, mostrar que a pouca idade não nos faz ser ingênus ou meros telespectadores da destruição dos nossos direitos e sonhos. É o espírito de revolta e instasifação que arrasta a multidão revolucionária pros dias quinze e trinta de maio, mas também pro 31, pro primeiro de junho, pros dias 2,3,4,5 e 6. A luta é todo dia. A luta é mais do que só os cartazes e concentrações. A luta é levantar todo dia da cama e ir pra sala de aula, enfrentar o trânsito, o ônibus lotado, a fila do bandeijão. É passar a borracha na decadência planejada e escrever "resistência", só que com caneta permanente.
Dois dias já foram, mas parece que essa batalha ainda vai longe. Sendo uma guerra de seis dias ou cem anos, temos mais munição. Livros, lápis e mentes pensantes são armas mais fortes que ignorância, ódio e gesto de arminha. Trabalhadores que vão às ruas em um dia útil depois do expediente são mais fortes que meia dúzia de entediados que passeam usando a camisa da seleção em um domingo de manhã. Estudantes que protestam o dia todo e ainda vão escrever crônica no final da noite? Esses então, são de força hercúlea! Peguem suas ferramentas de trabalho - lápis e papel -, a diferença básica entre nós e os inimigos - nossos cérebros - e façam seus cartazes e gritos de ordem. Lutem como puderem, mas lutem até o final. Pode até ser contraditório, mas nem por isso a lógica é falha: a gente só vai descansar quando não estiver mais cansado.

Leena Charpentier

Um comentário:

  1. Heyy Leena!
    Seguinte, percebi que você nao está dando espaço depois das reticencias. No primeiro pragrafo, acho que para dar um efeito melhor na repetição do "Tem coisa", eu usaria apenas o ponto final ao invés das reticencias e trocaria as reticencias antecedente do "mas", para uma virgula. "Tem coisa que não faz sentido nem se você olhar de ponta-cabeça, considerar um universo paralelo, inverter os padrões morais. Tem coisa que realmente não dá pra engolir. O sucateamento da educação pública é uma dessas coisas. Não dá pra engolir, mas às vezes a gente aprende a conviver."
    Trocaria o "Mas" em "Mas tem hora que a coisa passa dos limites" por "Só que tem hora" por mero cuidado com a repetição da palavra, que acaba sendo usada muitas vezes ao longo do texto.
    Basicamente, cuidado com as repetições desnecessarias e com espaçamento depois de reticencias, que alias, também sugiro você dar sempre uma olhada se é essa a pontuação ideal no momento.
    De resto, ta otimo, adorei a brincadeira no texto.
    Beijooos, querida crítica!!

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