quinta-feira, 23 de maio de 2019

Porta aberta

      Paisagem. Câmera. Fotografia. Xis. Click. 
      A minha foto ficou boa. O sol tímido, mas brilhante, tá no canto esquerdo e insiste em se esconder atrás das nuvens. A ponte continua com seus pontinhos de luz atravessando-a. O Pão de Açúcar tá logo ali, me fazendo lembrar que antigamente era “Pão de Assucar”. E o Cristo. Ah, o Cristo é só o cristo pra mim.

      Meu quarto é daqueles tipo tumblr- cheio de fotos penduradas em um varal. Essa foi mais uma que botei no “cordão de luz” - como chamam o meu varalzinho. Essa foi mais uma que me permiti encontrar uma história para ela:

      Pronto. Tô na orla. Deveria sentir alguma coisa? O vento batendo na minha cara só porque não posso revidar? Meus pelos pra cima por conta do frio? As formigas passeando pelas minhas coxas como se fossem estradas? A brisa do pessoal aqui do lado? O repelen.... Foca, Gato. Você não pode ser tão objetivo. Vá além dos clichês que os cartões postais do Rio já fazem. Pensa em alguma coisa, não precisa ser brilhante, só precisa ser. O que mais tem para falar? O cheiro da Baía? A Ponte de 72 metros? A diferença entre a barca velha e a nova? 

      Ih. Tem um avião voando aqui. Meu Deus. Ele tá muito perto. Gente... Vocês têm medo de avião? Porque assim... Se esse avião cai, ele cai na Baía e aí, as pessoas, além de caírem, vão se afogar. BATATA! - fazendo relação com a macarronada, mas sem queijo e presunto.
Pessoas.

      Alguém já deve ter escutado que eu não gosto de pessoas. Então, oi, eu sou o Gato. Mas não sejamos tão literal. Só não gosto da maioria. Pode soar estranho, já que faço Comunicação, mas isso vai para outro papo. O fato é que pessoas surgiram no mundo, seja pela vontade de Deus, seja pela do Universo. Animais racionais, porém ignorantes e onde habitam. Presta atenção porque agora entro no assunto. Sabe aqueles pixels da foto? Os menores pontos que formam a imagem? É isso! São as pessoas. As esquisitas. As inteligentes. As trabalhadoras. As. 

      Eu vejo o Ronaldo acordando três da manhã no Rio, pegando o carro cinco para conseguir atravessar a ponte seis e chegar no trabalho sete. Eu vejo a Gabriela no ônibus, com seu fone de ouvido - provavelmente escutando um Tim Maia -, sentada no banco que o sol bate e rindo, rindo pra quem passa, rindo para o celular. Eu vejo o Fernando com uma farda de militar, odiando vestir aquilo nesse momento político e representando quem não o representa. Eu vejo a Patrícia de salto alto e batom vermelho que aguenta todos os dias o assédio do chefe. São muitos que conseguem ser poucos. Ninguém os vê. Sempre preferimos olhar para fora. A França fez a Revolução Francesa. A Inglaterra, a Industrial. Os Estados Unidos, a Americana. E, nós? A de 64? Nunca! 

      Somos grandes. Fomos sucateados pela colonização, pelo capitalismo e pelo nosso próprio governo. Só que temos muito. Olhar para a Baía é lembrar de toda uma história e potencializar o brilhante turismo que temos. Eu sempre fico puto porque, quando viajam para fora, encaram como a coisa mais inesperada possível. EI, OLHA PARA ESSA PAISAGEM. QUANTAS DELAS TEMOS NO BRASIL? É tudo tão diverso, tão rico, tão nosso. Como podemos ter uma crise de identidade? 

      Martha, Tarsila, Chiquinha, Hebe, Carmen e Zuzu.
      Oscar, Caetano e Paulo. 
      Estes importam. Estes ficam. Estes são e serão.

      A foto representa muitos brasileiros.
      Aqueles que morreram construindo a Ponte. 
      Aqueles que se suicidam.
      Aqueles que não tem dinheiro para visitar o maior símbolo do estado.
      Aqueles que sabem que o melhor de Niterói é a vista para o Rio.
      O meu Brasil é o seu também. 
      Com os erros. Com os acertos
      Seja Bem-Vindo. 

      Toc, Toc. 
      Pode entrar se quiser. 
Gato de Botas

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