Essa variedade de sentidos que uma palavra pode ter é fascinante (apesar de ter destruído meu sonho), porque um não exclui o outro. Você pode comer manga todo dia, usar hidratante de manga, beber suco de manga e ter uma mochila com desenhos de manga, mas se apontarem para a sua camisa e falarem que a manga está suja você vai entender do que se trata. Isso é óbvio, graças a algo simples chamado contexto. Então por que quando se diz “direitos humanos” a primeira coisa que vem à cabeça é “bandido” e não “leis que garantem a vida humana”? De novo, é por causa do contexto que, no nosso caso, é de uma sociedade que se apropria da coisa mais livre que consigo imaginar: a palavra.
Temos alguns exemplos de governos que usaram e usam essa estratégia. Transformam o sentido de expressões em um que beneficia a si mesmo a ponto de desqualificar o discurso do opositor. É difícil perceber como isso é feito porque é sutil e escancarado ao mesmo tempo. Basicamente, o governante precisa repetir o termo que quer alterar constantemente usando a entonação e no contexto que desejar e deixar que seus seguidores façam o resto sozinhos, afinal estão cegos demais para enxergar que eles são a massa de manobra.
Conversar com alguém que tenha uma posição política diferente é como pisar em ovos. Uma palavra “errada” e já começam as discussões e os xingamentos. O diálogo é a melhor saída para resolver situações de conflito, mas como ele pode ser feito se para cada grupo uma palavra significa algo que para o outro é o oposto? Ficamos presos dentro de uma luta de dicionários, sendo forçados a ouvir as coisas mais absurdas e sendo reprimidos e humilhados ao tentar consertar.
O mais triste é pensar que as crianças de hoje que tenham o meu sonho de conhecer todas as palavras talvez não tenham o mesmo sonho de conhecer todos os significados por não saberem que existem. A palavra pode ser uma arma – e disso, o governo entende bem.
Sharpay Evans
Oi, Sharpay!
ResponderExcluirSeu texto ficou ótimo, achei o título bem criativo e condizente com o conteúdo.
Gostei bastante da forma como você contextualizou ali em cima usando exemplos mais "banais" como manga e etc.
Algumas frases da crônica me impactaram bastante, e amo quando isso acontece! Parabéns!
Beijos <3