quinta-feira, 16 de maio de 2019

"Feminazi"

 Chego na casa da minha vó. Mais um churrasco de família e todos estão aglomerados na cozinha. Já posso até prever que daqui a pouco as discussões polêmicas vão começar. E, de fato, começam. O assunto da vez é feminismo. Tento me manifestar, mas logo sou reprimida. 
 - Ah, Felícia, vê se não vira feminista! Não sei nem o que eu faço se a menina que eu segurei no colo vira lésbica e me aparece com uma mulher GORDA  e PELUDA - disse meu primo GORDO e PELUDO. 
 Tive que respondê-lo, não pude aguentar. E, assim a gritaria começa. 
 - Mas e os namoradinhos Felícia? - solta minha tia numa tentativa de acabar com a discussão. 
 Desisto da minha família. Talvez não tenham jeito mesmo. Pego o celular e abro o Facebook. Logo me deparo com o termo "feminazi". A famosa junção das palavras "feminista" e "nazista" que tem sido constantemente usada para se referir às supostas mulheres radicais. Sério que mulheres que lutaram e ainda lutam por seus direitos se resumem, para muitos, à "feminazis" e "mimizentas"?
 Maria Quitéria se vestiu de homem para lutar pela independência do Brasil. No seculo XIX ela já desafia o estereótipo que se tem da fragilidade feminina.Simone de Beauvoir, no século XX, traz ideias que ressignificam o papel da mulher na sociedade. Malala, em pleno século XXI, é baleada por lutar pelo acesso feminino à educação.  E nós, mulheres que, também em pleno século XXI, ainda sofremos com os efeitos de uma sociedade patriarcal. 
 Será que os indivíduos que tanto ridicularizam o movimento conhecem essas mulheres e as verdadeiras motivações dessa luta? Só consigo pensar que a causa e as pessoas que lutam por ela têm ganhado novas significações pra lá de pejorativas por ignorância ou uma tentativa de calar o movimento. 
 Minha vó teve que largar a escola porque disseram para ela que lugar de mulher era em casa cozinhando. Hoje, me vejo fazendo uma escolha que ela não pode fazer. Agradeço á todas mulheres que lutaram para que eu pudesse ingressar na universidade e mudasse a história dessa família. Espero que toda repressão não seja suficiente para calar o feminismo e que, um dia, a minha neta também possa dizer que os obstáculos que a vó dela enfrentou, ela já não enfrenta mais. 
Felícia Rockfeller

Um comentário:

  1. Oi, Felícia, tudo bem?!
    É TEXTO SOBRE FEMINISMO, ENTÃO PERMITA-ME DIZER QUE JÁ GOSTEI! kkkkkk
    Esse negócio do primo GORDO e PELUDO que critica alguém pro ser GORDO E PELUDO é tão real, e me irrita taaaaanto que não sei nem o que dizer!
    Difícil quando esses assuntos surgem em reunião de família, né? Ou você causa treta, ou fica se corroendo por dentro kkkk

    Teve algum lugar aí em que você esqueceu de dar espaço, mas acontece né kkk
    Além disso, tem esse trecho aqui: " E nós, mulheres que, também em pleno século XXI, ainda sofremos com os efeitos de uma sociedade patriarcal. " ---> Acho que seria melhor tirar o "que" depois de "mulheres". Daria uma ênfase maior no que está sendo dito. Com o "que" aí acaba parecendo que é só um grupo restrito de mulheres que sofre, quando a gente sabe que na verdade somos todas nós :(

    Final SUPER impactante, parabéns!
    Um beijo <3

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