quinta-feira, 2 de maio de 2019

Juiz, Júri e Executor...


Numa noite escura e úmida, eu corria perdido, só conseguia pensar em fugir do encontro que estava prestes a ter comigo mesmo. Não queria me assumir, me entender e me revelar. Nessa carta agora...eu busco uma súplica, um ar de esperança, um perdão de vocês. Todos os erros que cometi foram por medo, por distúrbios escondidos que durante as noites vazias se revelam em mim. Eu só queria poder esquecer tudo, não queria mais sentir essa enorme culpa.
Depois desse desabafo inicial eu vos pergunto, algum de vocês já cometeu um erro e teve essa mesma sensação, de bagunça, confusão, julgamento e desamparo? Provavelmente sim, mas o quão ruim foi realmente o que você fez? Eu com toda certeza, posso afirmar que não fiz algo ruim, até fiz, mas não atingiu o limite da maldade. Na minha consciência, no meu julgamento interior eu sei que sou inocente, e só gostaria de mostrar para todos, que sim, cometi erros, mas sou uma boa pessoa.
Naquela noite, eu apenas me defendi, estava sob uma circunstância extrema, era eu ou ele. Me escolhi, optei pela minha vida, pelos prazeres da minha vivência, pela certeza do meu amanhã, foi tão errado assim? Escolhas podem até ser o que nos definem, mas são os caminhos que nos levam ao seu encontro, que realmente mostram quem somos e como reagimos as alternativas que o mundo nos apresenta. No fim, eu fiz uma escolha e vocês também farão as suas...
Fui forte, fechei os olhos e os abri para o novo, apunhalei todos os meus medos e receios, encerrando o que me consumia e matava por dentro. Sou forte por me manter vivo e isso não é um erro. Crime é não ouvir as histórias por completo, não analisar os fatos, crime não foi o que cometi, aquilo foi sobrevivência e pura coragem. Crime, talvez seja o que vocês, nesse exato momento, estão fazendo. Concordando, me defendendo ou até se identificando, mesmo que de forma metafórica. No fim...foi a escolha de vocês.
Essa talvez seja a carta que eu queria ter escrito, mas na verdade, ela foi apenas uma brincadeira e experiência do poder da indução, será que consegui convencer vocês? Acho que sim. Idealizaram o que contei, tomaram minha história como lei, parâmetro e propósito de julgamento, mas não pensaram na outra versão, a da real vítima. Até a próxima.
- A polícia e família da minha vítima.
Shakespeare Iludido

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