Deixa falar

      Eu sei que tá difícil. A extrema direita cresce no mundo. O ódio se perpetua. O século XX parece o XVI. E o que eu tenho que fazer? Resistir. 

      O carnaval é a minha festa. Aquela que conto os dias para chegar logo e, enquanto não chega, qualquer festival de samba/fantasia/axé eu estou. Eu já fui convidada duas vezes para ir ao sambódromo e ambas foram sensações diferentes, mas gostosas demais. Assistir a escola que você ama - no meu caso Mangueira- desfilando e transmitindo uma mensagem muito maior sobre o que dizem do carnaval é aquele clichê da #gratidão. Agora, se você não tem a oportunidade de ir, não se preocupe! As ruas estão aí para te mostrar o carnaval do “tira o pé do chão”, das danças em massa, do balancê balancê- DALE BAHIA! É o carnaval que você vai para beijar na boca, cantar até não ter mais voz, jogar espuma nos amigos, sair de casa sete da manhã e voltar dez da noite.

      Cada um brinca a festa do jeito que quiser. Vista-se de homem de ferro. Pinta seu rosto de alienígena. Beba dois corotes e pegue mulheres e/ou homens que se tornaram magicamente belos após suas doses de álcool. Faça amizades inesperadas. Transforme-se na sua melhor versão (seja lá ela com uma roupa da capitã marvel, seja lá ela com uma fralda gigantesca fingindo ser um bebê). Apenas seja. E é isso que amedronta os conservadores e preconceituosos.

      A tentativa de desmoralizar o carnaval apenas cresce. E como o próprio presidente diz, não entende nada de economia, mas acho que nem precisa, já que eu, leigo no assunto, imagino a quantidade de dinheiro movimentado por conta dessa festa. O fato é que vai muito além de valor econômico, o carnaval, além de tudo já citado, tem valor cultural. Os gêneros musicais apropriados para a folia, como o samba, o samba-enredo, o maracatu, o afoxê e o axé, têm contribuição dos negros. Hoje, ainda, a festa é um instrumento de resistência e celebração de raízes africanas. O carnaval se torna um espaço de intenso diálogo e reflexão para a sociedade que o assiste e o vive.

       O sentimento que tive ao ver o presidente do Brasil divulgando um vídeo escatológico durante o período da festa foi de profunda lamentação, pois, além de querer mostrar uma falsa imagem do carnaval, também o desmoraliza para outros países. É triste demais ver alguém estigmatizando a maior festa popular do Brasil e ainda se dizer patriota. Então, eu digo que o carnaval não é isso, casos isolados acontecem sim! Mas, onde não? No Congresso Nacional tem até ex ator pornô que define o lugar como um puteiro. 

      A primeira escola de samba do Brasil: “Deixa Falar”, demonstra a vontade do povo de se expressar. Em 2019, parecem querer calar nossa voz, mas estamos aqui, cambaleando de vez em quando, só que ainda de pé. Eu vou gritar para o meu carnaval e muitas outras coisas ficarem. Vocês também.

Gato de Botas