quinta-feira, 16 de maio de 2019

Isto é isto até que digam o contrário

  Em algum momento passado, Júlia havia lido um livro explicando que o que a Igreja cristã não conseguia destruir das antigas práticas pagãs, ela adaptava, 'cristianizava' e ressignificava. Como a celebração do aniversário de Jesus, comemorada na mesma data do Deus pagão Mitra.
  Essa estratégia política ajudou a diminuir a resistência das pessoas a se unirem a Igreja cristã, já que pra quem está se afogando, jacaré é tronco.
  Porem, Júlia já não se lembrava desses pensamentos. Muito menos quando seu pai contestou a escolha de sua camisa. Não parecia ser por estar curta ou surrada, mas a comoção foi tamanha, que ela voltou a olha-la, checando se, por acaso, não havia comprado uma com o desenho da suástica.
  A camisa tinha a cor do poder, a cor do sangue, a cor do amor. Mas não passava disso: uma camisa e, por fim, ela não via o problema. O quanto que uma roupa poderia ser um percalço?
  A explicação veio em forma de gritos. Gritos esses de tamanha reverberação que fez de uma vez só, todas as fichas de Júlia cairem. A televisão exibia manifestações realizadas em todo o país a favor da deposição da atual presidência.
  Sair com a camisa vermelha em tempos em que a bandeira brasileira era rasgada em várias, seria defender o inimigo. Era passar por uma torcida com a camisa de um outro time.
  "É só por hoje" seu pai lhe prometeu. "Não vai querer ficar taxada de esquerdopata. De comunista. "
Não, Júlia não queria. Se ser 'esquerdista' era tão ruim quanto seu pai dizia, Júlia não queria ficar reconhecida assim. Certa vez, simpatizara com esses ideais. Hoje, ela tinha vergonha de mencionar tal passado sombrio. A camisa ganhara um novo significado.
  Rapidamente, ela trocou a vestimenta por uma branca, lisa, sem estampas. Mais neutra, impossível. Porém, antes de sair de casa, Júlia brincou com seu pai dizendo " Acho que vou com o uniforme da escola. Essa bandeira todos apoiam."
  Mas o que ela desconhecia, era que a história, segundo Geoge Orwell, era escrita pelos vencedores, e que tudo o que ela conhecia poderia ser redefinido.
By a Lady

Um comentário:

  1. Oi, By! (Qual seria a graça de te chamar de Lady? ¯\_(ツ)_/¯ <--- Tá lançado o desafio: lê esse emoji aí "ao pé da letra", Matheus! kkk)

    Achei seu texto muito bom! Gostei principalmente da contextualização ali do começo falando da Igreja e tal. Amo pesquisar sobre esse assunto e saber mais da origem "real" das coisas que a gente comemora! (Se já criei treta comentando isso em reunião de família? Imagiiiiiinaa....)

    Percebi uma "referência" do que tá acontecendo com a educação atualmente ali no final na parte do uniforme, mas não ficou claro se é só coisa minha ou se foi ralmente proposital, então alguém me esclareça: fui só eu? kkkk

    Achei o final bem impactante. Não tenho nenhuma crítica pra fazer :(
    (Era pra ser carinha feliz, mas não consertei o erro pq quero dar uma de engraçadinha, não leve pro lado pessoal kkkkk)
    Beijos <3

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