Carta de agradecimento ao Capeta

Niterói, 08 de maio de 2019
Caro presidente,
meu professor solicitou que a turma escrevesse sobre o futuro da nossa universidade, aquela que ficou em sexto lugar no ranking nacional, e logo que a proposta foi lançada (que significa feita à turma, não, jogada nela), me deu uma vontade enorme de agradecer ao senhor. De verdade, espero que minha linguagem seja clara a ponto de se fazer entendida por sua FANTÁSTICA pessoa.
Gostaria de começar agradecendo pelas crises de ansiedade que suas ações têm me proporcionado. Fazia muito tempo que elas não vinham com tanta força. INCRÍVEL como o senhor conseguiu desbancar o meu nervosismo com o ENEM. E, por falar nele e no futuro que nos espera, obrigada pelas declarações mentirosas e ameaçadoras que, hoje, prejudicam o desempenho de meus companheiros que, nesse momento, estudam para a realização da prova. Se é que haverá prova.
Em segundo plano (que quer dizer o mesmo que “segundamente”), te agradeço por me trazer a sensação de ver ruir a educação pela qual eu tanto luto. Em alguns anos de movimento estudantil, fiz mais por ela do que o senhor durante seus 27 anos enquanto deputado. Mais uma vez, obrigada por não ter feito nada. Aliás, por não fazer nada além de espalhar correntes fraudulentas nas redes sociais e de ajudar no sustento da milícia do meu estado.
E, por falar nas intocáveis milícias, evidencio que não vejo contradição alguma no fato do senhor disponibilizar tanto de seu PRECIOSO tempo e de nosso suado dinheiro a elas e deixar de lado a saúde, a segurança e a educação de seu povo. Imagina! Pensando bem, erro meu: o senhor não nos deixa de lado. O senhor nos bota embaixo, mesmo. Bota tão embaixo que esquece de nossos direitos garantidos na Constituição (aquela que o senhor insiste em ignorar). Essa é a hora em que eu agradeço pelo corte de verba na minha universidade (de novo: aquela em sexto lugar no ranking nacional...).
Te agradeço não só por isso, mas por não me deixar cumprir a tarefa que meu professor pedira (que é o verbo pedir no pretérito mais-que-perfeito). Porque, enquanto o senhor estiver aí e eu aqui, o futuro é construído todo dia. Não sei se posso dizer o que está vindo com tanta clareza a ponto de alguém que beira o analfabetismo funcional entender, mas te adianto: tem a ver com luta. Tem a ver com não deixar barato pro seu lado. Tem a ver com a minha universidade, aquela mesma do sexto lugar, que é sinônimo de resistência.
Termino informando que, se o senhor não sabe o que isso significa, sugiro que abra bem os olhos. O tal futuro está apenas começando.
Lamentando pela facada que não entrou direito e pedindo perdão a Deus logo em seguida,

Heloísa Dandara Pires