Quando eu era menor e assistia Sessão da Tarde, tinha um filme que sempre passava. O nome era “Click”, estrelado por Adam Sandler. A trama girava em torno da vida de um norte americano ordinário que recebia um controle – que nem esses de televisão- capaz de acelerar o tempo. Obviamente, como em todo filme que envolva viagens no tempo, as mudanças feitas geraram uma consequência ruim pro personagem, fazendo com que ele se arrependesse e desse valor à vida que levava antes. Uma bela lição de moral. Mas o que ficou mesmo, foi a ideia do controle.
Nas incontáveis vezes que ralei a perna brincando ou me machuquei de alguma forma, eu desejava ter o controle para pular toda a dor que sentia e ir logo pra cicatrização. Nos momentos de insegurança às vésperas das provas, queria acelerar o tempo para quando eu recebia a nota boa e me repreendia mentalmente por não ter confiado em mim desde o início. Nas vezes que brigava com um amigo, queria deixar toda a tristeza e aperto no peito pra trás, e ir logo pra parte que descobriam que eu falava a verdade e não tinha razão para brigar.
Era uma idealização tremenda do “depois”, principalmente, no ensino médio. Nos primeiros momentos era o depois das aulas, depois das festas, depois dos shows. Ao longo do tempo, se tornaram o depois dos simulados, depois do vestibular, depois da formatura. E se não der pra passar? Não tem problema, qualquer coisa, depois, tem o cursinho.
Eis que, finalmente, chega o depois. O depois do depois - a faculdade. E ninguém te ensina a viver o depois, nem você mesmo. É um espaço tão novo e tão fluido, que nem mesmo as suas próprias expectativas poderiam ser capazes de alcançar essa infinitude de possibilidades. Inclusive, poderiam muito menos prever o corte de 30% das verbas para as universidades públicas. Bem ali no seu depois.
Se o controle existisse, eu podia pular essa fase – sim pois tudo passa- esquisita de transição e aterrissar num futuro calmo e próspero em que eu esteja fazendo qualquer coisa. Mas o controle não existe, e não é a toa. Sem ele a gente aprende a lidar com a dor, a ser paciente e a dar tempo ao tempo. Aprende também a confiar mais em nós e se manter pelos nossos princípios e no que acreditamos ser o certo.
Se o controle existisse, perderíamos a melhor parte disso tudo: a luta. Ir para as ruas. Sentir o arrepio que dá na pele ao ouvir o coro de vozes se misturando à sua. Entrar em sintonia com aquele mar de gente que grita pelas mesmas coisas que você. Vibrar a cada pessoa nas esquinas, nas sacadas e nas janelas que aplaudem, sorriem ou erguem suas bandeiras. Se pertencer.
Ainda bem que o controle não existe porque o futuro é agora. Ele ainda não foi escrito, estamos escrevendo.
Toninho Rodrigues
Oi, Toninho!
ResponderExcluirCaraaaaaamba, esse final do texto me arrepiou, de verdade! Gostei MUITO, principalmente da referência ao filme Click, e também me identifiquei bastante com tudo que foi dito.
Acho que parar de querer que esse controle existisse faz parte do amadurecer, e você falou muito bem sobre isso na crônica. Parabéns, de verdade!
Um beijo <3
Oi, Toninho. Muito bom o texto. Parabéns.
ResponderExcluirMinha única observação é a falta de uma vírgula de pois do sim em "sim pois tudo passa".
Abraços!
depois*
Excluir