quinta-feira, 30 de maio de 2019

Sem Título

Dia 30 de maio de 2019. Minha primeira manifestação oficial. Nunca tinha participado de uma. Então combinei de ir com uns amigos. Furada. Todos cancelaram, problemas no curso ou alguma outra desculpa. Não julgo, já fiz bastante. Sendo assim, resolvi me arriscar sozinha.

De vermelho, eu sai de casa em direção a candelária. Bem assustada e com meus documentos guardados na pochete. Com medo de qualquer barulho diferente. Bem nervosa, me sentia deslocada demais. Mas eu me perguntei se eu não estava exagerando. Nunca vivi isso aqui. Já vi no jornal nacional, mas eles sempre conseguem dar destaque aos ônibus queimados ou aos vidros quebrados – o que sei não fazer parte dos protestos estudantis. Eu estava julgando um movimento por um simples relance televisivo incompleto e tendencioso. Mas mesmo assim eu duvidava.

Enquanto eu andava pela Rio Branco, fui me familiarizando com os gritos e rimas. Foi assim, até que as coisas foram fluindo. E na primeira vez na minha vida, conclui a veracidade da informação do que é lutar pela educação no Brasil. Sem romantizar, é extremamente cansativo gritar para um governo que não quer ouvir. Milhares de pessoas nas ruas com consciência que a família Bolsonaro vai fingir que o protesto não aconteceu. É exaustivo pedir, suplicar e implorar mudanças quando somos governados por alguém tão intolerante e incompetente. Mas eu seguia, depois de um tempo já pertencia naquela multidão. Na minha cabeça, eu não tinha ido sozinha – eu conhecia aquele menino de blusa listrada e a menina com os adesivos do psol. Eles eram meus amigos mais próximos, por pelo menos algumas horas.

O vermelho das minhas roupas pode ser partidário nos olhos de alguns, e eu admito que, talvez, seja. Mas ele simboliza, também, a cor viva de uma menina lutando pelos seus direitos pela primeira vez na vida. E como eu me senti bem por estar ali. Me senti presente. Vou admitir que fui bem tímida, sem cartazes ou adesivos. Passei despercebida por uma multidão que gritava mais alto do que eu, me escondendo atrás das bandeiras. Quieta, só apreciando. No inicio, eu estava louca para encontrar um lugar e sair correndo dali. E apesar de não ter ficado até o final, eu consegui enfrentar um obstáculo naquela dia. A minha própria resistência. Eu ignorei qualquer sinal de duvida de mim mesma. Talvez, na próxima manifestação, eu até leve um cartaz.
Austen dos Anjos

2 comentários:

  1. Oi, Austen! (E Ally)
    Dava pra ter botado um título nisso aí, hein? :)
    Gostei bastante da forma como você terminou o texto. Simples, mas encaixou direitinho.
    Não foi aquela crônica UAU, DIFERENTONA, OUSADIA E ALEGRIA, mas foi boa.
    É muito a minha cara essa coisa de fingir que conhece a menina de blusa listrada e o garoto com adesivo do Psol kkkk Consigo me imaginar direitinho na situação, usando eles como "ponto de referência" e seguindo-os até resolver ir embora kkkkk

    Um beijo <3

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  2. Hey Anjo (não é cantada, juro)
    Achei gostosinha a leitura, bem leve.
    Uma coisa que estou sempre falando é: cuidado com as repetições do "Eu", você repetiu e 14 vezes ao longo do texto. Sei que não atrapalha muito, mas só de usar o verbo na primeira pessoa já é o bastante, nao precisa colocar o "eu" sempre.
    Cuidado também que tem bastante pronomes possessivos.
    Tirando isso, tudo certo.
    Abraços"

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